A notícia de que o governo federal gastará até 2016 mais com cafezinho nos ministérios e na Presidência da República, que com o programa de Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial, dá um traço ainda mais caricato ao governo Dilma. Levantamento feito pela RBS TV mostra que o governo federal irá gastar até 2016, cerca de R$ 81,4 milhões com o cafezinho. Já para o programa de Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial, para 2015, estavam orçados R$ 28,5 milhões.
Caricaturas são desenhos definidos pelos excessos, pela deformação das formas e dos traços, conferindo ao personagem ou a situação retratada forma cômica ou grotesca. Quer maior deformação caricata que lembrar que Dilma, durante a campanha, classificou como “verdadeiro escândalo querer acabar com ministérios”, e, agora, vê-la remover o status ministerial da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), subordinando-a ao Ministério da Cidadania?
Durante a campanha, rebatendo a crítica feito pelos seus opositores, sobre o excessivo número de ministérios, Dilma disse: “(…)Tem gente, inclusive, querendo reduzir ministérios. Vocês podem saber os ministérios que eles querem reduzir. Um deles é o da Igualdade Racial, o outro é o que luta em defesa da mulher. O outro é de Direitos Humanos (…)”. “Nunca antes na história desse país” a contradição da promessa da véspera da eleição e o dia seguinte da vitória foi tão cínica e grosseira.
A reforma ministerial veio e, pela lógica do que Dilma disse em campanha, importantes áreas sociais foram enfraquecidas no governo. No caso da Seppir, enfraquece-se o simbólico de uma pasta importante para 97 milhões de brasileiros que se declararam pardos ou negros.
Só uma caricatura governando entrega decisões tão lamentáveis. Lamentável, porém, previsível. Basta observar o sistemático decréscimo do orçamento destinado à Seppir nos últimos anos para antever o anuncio do retrocesso.
Para o programa de Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial, em 2012, foram orçados 105,5 milhões. Em 2013 o valor caiu para R$ 76,1 milhões e, em 2014, desceu para R$ 64,8 milhões. Em 2015, como já dito, chegamos R$ 28,5 milhões.
Nos ensinam os economistas que a economia é política, por implicar em escolhas. Os recursos da Seppir representam menos de 0,1% do orçamento geral da União. Dilma escolheu retroceder na política de promoção da igualdade racial e de enfrentamento ao racismo, tentando esconder sua decisão política atrás de um enfadonho e mal organizado discurso técnico-econômico.
O problema da grande caricatura que virou esse governo é que, diferentemente de outras caricaturas, não me ocorre nem por um minuto a vontade de rir. Muito pelo contrario…
*Juvenal Araújo é presidente do Tucanafro-Brasil