Folha – Que proposta de segurança o PT deve trazer para o debate presidencial?
Hélio Bicudo – Evidentemente a segurança pública foi jogada de escanteio nesses dez anos ou mais. A primeira coisa a fazer é propor uma limpeza na polícia, e a reforma da polícia passa pela desmilitarização. Quando vejo pessoas do PT falarem no auxílio do Exército para o combate à criminalidade, fico estarrecido.
Folha – O PT também jogou para escanteio essa discussão?
Bicudo – Eu apresentei em 92 uma proposta de emenda constitucional desmilitarizando e unificando a polícia, uma reforma do Poder Judiciário e uma do setor penitenciário. Qual foi o apoio que o partido deu a essas propostas? Nenhum. Quem tocou essas propostas fui eu. Depois, apresentei projeto transferindo a competência dos crimes de policiamento para a Justiça comum. Qual foi o apoio que eu tive no partido? Nenhum. Batalhei sozinho. Contei com o apoio do Luís Eduardo Magalhães [ex-presidente da Câmara, do PFL, morto em 1998¥.
Folha – Mas parece que o partido acordou para o tema.
Bicudo – Acordou, mas muitos estão transformando o sonho em pesadelo. Porque pregam pena de prisão perpétua, Rota na rua…
Folha – O que está acontecendo com o PT?
Bicudo – Não é com o PT. É com alguns candidatos [do PT¥. Que pensam que podem encontrar votos nessa área, da direita. Agora, isso é incompatível com a posição do partido.
Folha – O PT moderou o discurso na economia. Processo semelhante ocorreu na segurança?
Bicudo – Acho que a coisa teve um progresso muito grande no sentido de atuar em uma política unificada de segurança. O PT está consciente disso. Por outro lado, não é no enfoque de prisão para recolher, de prisão por tempo indeterminado. Prisão perpétua é para armazenar. O que interessa a você reeducar uma pessoa que vai ficar o resto da vida na prisão?
Folha – O fato de o PT não ter discurso único na segurança deriva do descaso histórico que o sr. aponta?
Bicudo – O descaso anterior não é justificativa nenhuma para essas dissensões, que do meu ponto de vista são mais eleitorais do que outra coisa. Tentar entrar no eleitorado conservador é um erro, do meu ponto de vista. Esse eleitorado é muito mais do Maluf do que nosso. É um equívoco desastroso. E pode comprometer a imagem do partido.