Os novos inquilinos do presídio da Papuda, na capital federal, estão nervosos. Julgam injusto ter de pagar pelo crime que cometeram purgando anos atrás das grades, sem conforto e sem mordomias. Preferiam algo mais ameno, como ficar vendo TV em casa. Mas os mensaleiros que desviaram centenas de milhões de reais dos cofres públicos do país certamente merecem o tratamento que estão recebendo.
O fim de semana prolongado pelo feriado da Proclamação da República foi movimentadíssimo. Cenas de cinema, dramas, choros, esperneios. Eram os mensaleiros, com alguns dos principais líderes do PT à frente, sendo presos e enviados para presídio para cumprir as penas pela quais foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal. A justiça em ação.
Se antes sonhava em protagonizar a subida da rampa do Palácio do Planalto, já que ser presidente da República sempre esteve nos seus planos, José Dirceu pôde emular passos similares, de punhos cerrados, subindo a escadaria de acesso à carceragem da Polícia Federal na sexta-feira em que se comemoraram os 124 anos da adoção do regime republicano no país.
Antes tão falante, José Genoino pôde soltar a voz e bradar “viva o PT” no mesmo momento em que se dirigia para a prisão. A seu modo, o ex-guerrilheiro também tentou dar cores épicas à sua debacle política. O tesoureiro Delúbio Soares, minutos antes de se apresentar à polícia no sábado, ainda encontrou tempo para ir às redes sociais incitar a militância petista. Talvez preferisse contar-lhes alguma piada de salão…
As reações dos petistas agora encarcerados às prisões indicam que eles nada aprenderam ao longo do processo. Continuam classificando as decisões do STF como fruto de uma “condenação política” da qual seriam vítimas indefesas. Parece até que o PT não governa o Brasil há quase 11 anos, não exerce um controle ferrenho sobre instituições da República e não tentou, ele mesmo, por várias vezes constranger o Judiciário.
Os petistas podem espernear o quanto quiserem e se considerarem “presos políticos”, como fez José Genoino. Ou denunciar a “pressão da grande imprensa”, como alegou José Dirceu. Ou se apresentarem como vítimas de “tentativas de criminalização”, como sustenta a direção do PT em nota oficial.
A verdade nua e crua é que gente dos primeiros escalões da República, que governou o país nos primeiros anos da experiência petista, está atrás das grades para cumprir penas que beiram uma década. Não há alegação, versão ou contrafação que conteste os fatos: petistas de alto coturno estão presos porque roubaram o país!
O mais triste da história é que o partido dos mensaleiros não parece ter aprendido nada com o rigor da Justiça. Continua a se meter em tenebrosas transações, a desrespeitar o bem público, a se locupletar das benesses do poder. Os exemplos se sucedem, seja na capital paulista, seja novamente na capital federal.
Neste fim de semana, por exemplo, ao mesmo tempo em que os próceres petistas eram recolhidos às grades, mais um escândalo envolvendo a apropriação indébita de recursos públicos por gente dos primeiros escalões foi desmascarado. Envolve dois funcionários do gabinete do ministro da Fazenda, que teriam recebido dinheiro de uma empresa que presta serviços para a pasta, conforme revelou a revista Época.
O PT não aprende. O partido que sempre torceu o nariz para as instituições da democracia, e que tem parte de seus militantes forjados na luta armada, parece continuar não convivendo bem como o Estado democrático de direito. A prisão dos mensaleiros deveria servir de lição: num país justo, aqui se faz, aqui se paga. A turma da Papuda que o diga.