Referência no pensamento econômico brasileiro, André Lara Resende, que participou da elaboração do Plano Real, defende um novo modelo de desenvolvimento, orientado para o bem-estar coletivo e sustentado pelo setor de serviços em áreas como educação e saúde. Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, publicada neste domingo (9), ele disse que o ideal é a alternância de poder para a bem da democracia e da sociedade.
“Acredito que a alternância no poder é elemento fundamental da democracia. Uma década parece-me suficiente para que um governo diga a que veio. Mesmo quando o governo é bom, é preciso alternar. Muito tempo no poder desvirtua, leva à perda de foco, a confundir os interesses dos governantes e do partido com os interesses do país e da população. É importante ter novos ângulos, novos pontos de vista, sobre os problemas e os desafios do país”, avaliou o especialista.
Comprovações
Em seguida, o economista fez uma análise histórica política. “A alternância entre o PSDB e o PT, nas últimas décadas, foi positiva. O PT mostrou sua cara, suas qualidades e seus vícios, desmistificou-se. Foi importante. Acho que agora é hora de mudar”, disse.
Lara Rezende elogiou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves. “Tenho certeza de que Aécio Neves faria um excelente governo, como já demonstrou no governo de Minas. Na economia está muitíssimo bem assessorado e saberia como reverter o quadro delicado, decorrente dos erros da política econômica nos últimos anos. Não será fácil, sobretudo por causa do aparelhamento do Estado, promovido pelo governo nos últimos anos”, afirmou.
Alternativas
O economista também avaliou o crescimento do país como abaixo das expectativas. “O país tem crescido bem menos do que se espera, é verdade. Alguns analistas chamaram de a Armadilha da Renda Média o fato de que, depois de atingir um estágio intermediário de renda e desenvolvimento, muitos países parecem ter dificuldades de deslanchar e finalmente encostar nos países do primeiro mundo”, ressaltou.
Para o economista, há alternativas para escapar da situação atual. “Para sair da pobreza absoluta, crescer e atingir um mínimo de desenvolvimento, basta ser capaz de criar um excedente para ser investido. Pode não ser fácil para sociedades onde a renda e o consumo são extremamente baixos, mas a fórmula é conhecida: poupar e investir, aproveitando a tecnologia de domínio público”, disse.
Novo Modelo
Segundo Lara Rezende, é preciso rever o modelo de crescimento adotado no Brasil. “Já não faz mais sentido associar desenvolvimento exclusivamente ao crescimento e ao aumento do consumo material. A partir de certo nível de renda, onde com certeza já nos encontramos, a qualidade de vida não está mais necessariamente associada ao consumo material”, afirmou.
Para o economista, a onda de protestos que dominou o país no segundo semestre do ano passado foi uma demonstração que há um desejo coletivo por mudanças e, principalmente, melhor qualidade de vida. “Os protestos indicam que há busca por melhor qualidade de vida. À medida que a pobreza absoluta é superada, passa-se a desejar mais qualidade de vida, que não encontrada, leva à uma grande frustração. Apesar de se ter mais renda e poder consumir mais, a vida continua extremamente difícil, um verdadeiro inferno”, sintetizou.