O Instituto Teotônio Vilela lançou, na última terça-feira (28/11), o documento Gente em Primeiro Lugar: o Brasil que Queremos, uma proposta para a atualização das diretrizes programáticas do PSDB. A apresentação do documento dá início a um amplo debate, dentro do partido e com agentes e organizações da sociedade civil, que resultará na realização do congresso nacional da legenda em 2018, ano em que os tucanos celebram os 30 anos do PSDB.
“Este não é um texto definitivo. Estamos apresentando propostas. Depois de 30 anos, o PSDB faz uma reflexão com a sociedade, uma análise do que ocorreu neste tempo e o que é necessário fazermos daqui para frente”, afirmou o presidente do ITV, José Aníbal. “Sabemos que hoje nos deparamos com desafios muito maiores que há 30 anos. O maior deles é a desigualdade. E sabemos que não conseguiremos vencê-los sem crescimento econômico”, completou.
O texto foi produzido por lideranças partidárias, especialistas e colaboradores, sob a coordenação do ITV. Em síntese, os objetivos estratégicos que o PSDB renova a partir do documento são: retomada do crescimento; combate à pobreza e às desigualdades; oferta de oportunidades iguais para todos; fim dos privilégios consolidados por décadas, prestação de serviços públicos adequados, a começar pela educação, saúde e segurança; fortalecimento da federação; e promoção do desenvolvimento regional.
“Também destacamos que o Estado deve garantir um ambiente de negócios mais propício ao empreendedorismo. Damos uma boa contribuição para o debate sobre as reformas estruturantes, pois é certo que a agenda do Brasil precisa ser necessariamente reformista, e colocamos a educação como causa nacional. Emprego e educação são irmãos siameses”, disse o presidente do ITV.
Além disso, avaliou José Aníbal, o documento é uma oportunidade para reconhecer contratempos. “Eles existiram. Mas não podemos negar a contribuição tucana para o Brasil. Agora é trabalhar muito, construir o consenso e, a partir dele, construir um país melhor e mais inclusivo”, concluiu.
Indignação com as desigualdades
O presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, destacou a participação intensa do partido em todos as questões relevantes para o país. “Tanto, que somos vistos como um polo aglutinador na sociedade, que vai impedir o avanço tanto da esquerda radical quanto do conservadorismo”, afirmou. Segundo ele, essa importância se deve à história do partido, aos seus princípios e à conduta sempre indignada com as desigualdades e os privilégios.
“É essa conduta de indignação que nos leva agora a provocar essa discussão mais ampla. Não podemos fazer o exercício do poder pelo poder. Queremos vencer eleições, mas também queremos e devemos estar de acordo com os interesses do povo brasileiro”, disse Goldman. “Após essa ampla discussão, vamos realizar o nosso congresso e nos apresentar à sociedade como o partido que sempre buscou o desenvolvimento econômico e o fim das desigualdades”, completou.
Congresso nacional programático
Ao defender a necessidade de realização do congresso nacional partidário, o deputado federal Marcus Pestana, diretor de Estudos e Pesquisas do ITV, afirmou que é diagnóstico consolidado o esgarçamento das relações entre o sistema político e a sociedade, cada vez mais interativa e pulverizada, com a clara dificuldade dos partidos de sintetizar os interesses dos diversos segmentos. Nesse cenário, avaliou, o processo de construção da renovação partidária é tão importante quanto o conteúdo do novo programa.
“Um documento como este que apresentamos hoje pode ser frio, ou pode ser vivo. E é da tradição social-democrata, dos partidos que têm preocupação com a sociedade, a realização de congressos nacionais com a participação de todos os filiados. Numa sociedade totalmente interativa, os militantes não querem apenas aplaudir as lideranças, querem participar”, destacou.
O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres, garantiu que o congresso tucano será convocado pela nova Executiva, a ser eleita na convenção nacional marcada para 09 de dezembro. “A renovação programática do PSDB será resultado do que a sociedade deseja. O partido vai no sentido da unidade e de uma sintonia sustentada com os cidadãos”, afirmou.
Além de eleger a nova Executiva Nacional, a convenção vai deliberar sobre o novo estatuto do PSDB, cujo anteprojeto será apresentado nesta semana, e sobre a realização de eleições primárias para a escolha de candidatos tucanos. “Paralelamente, vamos instituir um código de conduta e um sistema de compliance, que dará maior transparência aos atos do partido”, explicou Torres.
A apresentação do documento Gente em Primeiro Lugar: O Brasil que Queremos, realizada no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, contou com a participação de parlamentares tucanos, lideranças e representantes dos segmentos partidários – Juventude, PSDB Mulher, Diversidade, Tucanafro e PSDB Ambiental.
O líder do partido no Senado, Paulo Bauer, destacou as experiências de sucesso dos tucanos em governos estaduais e municipais, além do governo federal. “Por ter alcançado a maioridade, o PSDB vivenciou conflitos, dúvidas. Muitos agora apostaram na nossa divisão, na incapacidade de expor nossos propósitos. Mas a convenção vai abrir caminho para a confirmação da nossa posição de liderança na política nacional, porque o PSDB sabe governar, sabe gerir e tem responsabilidade com a coisa pública, independência e identidade”, afirmou.
“O PSDB jamais virou as costas para o país. E quando explicamos para a sociedade o que estamos fazendo, ela entende e aprova. Por isso, um documento de renovação programática com ampla participação, como é este agora, é extremamente importante”, ressaltou o líder na Câmara, Ricardo Tripoli.
Parlamentarismo
Encerrando o evento, o senador José Serra traçou um breve histórico do PSDB e das principais bandeiras defendidas pelo partido à época de sua fundação – o Parlamentarismo, a austeridade fiscal e as políticas redistributivas. “A briga pelo Parlamentarismo diferenciou dois grupos na Constituinte. E essa é a base de criação do PSDB”, disse Serra.
“Depois tivemos um governo que consolidou a estabilização e isso nos trouxe desgaste, pois muitos não queriam a austeridade. Ao longo dos anos, fomos tendo outras experiências de governo em estados e municípios, criando sempre um clima de partido responsável. Mas não podemos ficar nisso: austeridade e responsabilidade”, avaliou Serra, defendendo a retomada, dentro do amplo debate que agora o PSDB propõe, das discussões sobre a implantação do Parlamentarismo e o voto facultativo.