Em artigos aqui publicados, discursos nesta casa e conversas com amigos e eleitores, um tema tem sido recorrente nas últimas semanas na minha vida pública: é hora de conciliação. E no nosso caso, na crise institucional que beira o caos porque virou uma desordem, a conciliação é uma necessidade urgente e improrrogável para voltarmos à ordem e à normalidade absolutamente necessárias para voltarmos a ser um país pacífico e tranquilo.
Se disse e escrevi isso repetidas vezes, digo e repito agora com veemência ainda maior, mais contundente, diante do agravamento da crise que já ganha contornos ameaçadores e perigosos.
É hora de conciliação, repito. De conciliação, repito. Se Fulano pensa de um jeito, Sicrano tem uma opinião diferente, não podemos impedir que Fulano e Sicrano exerçam plena e livremente o seu direito democrático de exercer a sua soberania e fazer valer a sua liberdade.
No Brasil de hoje, no país que há 37 anos conseguimos resgatar e restaurar após décadas de lutas, de sacrifícios e de perdas que ainda agora lamentamos e choramos, corremos o grave e perigoso risco de regredirmos apenas porque cada um quer impor a sua vontade, obrigar o seu pensamento, estabelecer como verdade absoluta, incontestável, a sua ideologia.
Isso não é possível, não é saudável, compromete a ordem pública e ameaça a democracia. Gostemos ou não, é imprescindível o respeito à liberdade de cada um e que cada um possa ser independente e com total e irrestrita soberania. Se alguns simpatizam com o governo, apoiando e aprovando as diretrizes desse governo, outros caminham em direção oposta. E assim deve ser, assim tem que ser, em democracias participativas.
No Brasil, estamos invertendo essa ordem imprescindível para o bem estar do país e a convivência harmoniosa e civilizada entre os agentes públicos e políticos. O resultado é perigoso, quase desastroso, eu diria até que é catastrófico. Parecemos uma legião de Caim e Abel, cada qual insistindo em impor as suas vontades, em obrigar o outro a aceitar os seus objetivos. Estamos quebrando uma regra básica, desrespeitando um princípio fundamental: o respeito à maioria, que significa a aceitação e o acatamento a toda decisão soberana de quem tem voz e voto para aprovar ou rejeitar a sua determinação.
Ontem e hoje, nossos caminhos estão produzindo buracos fundos e nos levando a terrenos desconhecidos. Ontem, embates parlamentares ofensivos, ostensivos, que nunca foram registrados no Congresso Nacional e envergonharam aquela casa. Hoje, deputados, senadores, ministros e até o presidente da República respondendo judicialmente a prováveis malfeitos que fazem corar Fernandinho Beira Mar. Para completar, tornando ainda mais sombrio os dias que vivemos, as ruas se transformaram em praças em tempos que deveriam ser de paz.
Chegou a hora, pois, da conciliação. Do entendimento. Como escreveu o ex-governador e ex-senador Geraldo Melo em brilhante artigo publicado aqui mesmo, “hora de ressuscitar a palavra transição. Como construir uma ponte que se afaste do cenário de hoje e permita ao Brasil sobrepassar a tormenta e encontrar o seu novo destino“ Não há outra saída.
Ezequiel Ferreira de Souza
Deputado e presidente da Assembleia Legislativa do RN