O direito à livre manifestação é um principado constitucional garantido no exercício da democracia. Os diversos segmentos sociais têm e devem buscar suas justas conquistas através de uma visibilidade reivindicatória, de forma a sensibilizar não só a classe dirigente, como trazer para si a solidariedade da sociedade.
Dentro dessa perspectiva, nada mais justo que se busque mudança de padrões para garantir a plena exuberância da cidadania através da concretização de direitos à ela inerentes. Têm-se visto, ultimamente, movimentos que visam a melhor qualidade de vida no campo da saúde, segurança, moradia, mobilidade urbana, educação e, em particular, o que mais me chamou atenção: luta para que os estudantes tenham direito a utilizar os transportes coletivos gratuitamente.
Nada mais justo que os poderes da República, em suas instâncias, busquem soluções que se adequem às diferenças e circunstâncias regionais. Porém, cada caso é um caso. As formas são muitas e a experiência que melhor resultado obtiver deverá servir de referência.
O que agita as massas nas ruas não pode ser o mito da realidade petista, que afirma ter encontrado o caminho da extinção das desigualdades sociais. Ora, se isto é verdadeiro, porque então as massas se rebelam? O que não se pode negar, em um prisma sociológico, é a existência de um quadro político exaurido pela vaidade dos dois últimos governantes federais, os quais apoiados por uma mídia oficial, pintam um quadro de um Brasil sem miséria.
O modelo está esgotado. A inflação existe em ritmo crescente, o PIB é inexpressivo e as soluções oficiais são promessas jogadas em um oceano de inverdades. Onde a solução para a seca no Nordeste? Os projetos de ferrovias paralisados, os aeroportos congestionados, estradas sucateadas, caos de infraestrutura? Há investimentos altíssimos nos estádios, enquanto as pessoas morrem nas filas dos hospitais ou esperam mais de um ano para as operações cirúrgicas serem realizadas.
Esta frustração permanece com a cristalização de eternas lideranças nacionais. O país vive como se fosse um adolescente à procura de seu rumo, sem que um farol, uma mão ou uma porta lhe seja apontada para a realização de um sonho que todos têm. Daí a grande frustração pelo resultado das lutas sociais que se assemelham às migalhas de uma mesa de banquete do qual o cidadão comum não participou.
Lutas que poderiam ser mais simpáticas e integrativas estão sendo desfiguradas com a participação de personagens mascarados, cujos valores são inversos àqueles de uma mocidade esperançosa. Um país de Castro Alves, Lopes Trovão, Silva Jardim, Rui Barbosa, Júlio de Castilhos, Benjamin Constant, ícones da velha república e que inspiraram as décadas de 60 e 80 à redemocratização, não tem espaço na agressão, violência e brutalidade de pessoas infiltradas, a serviço de quem os incentiva.
Não se pode enganar o povo o tempo todo. Os incendiários de maldade serão identificados e punidos pelos homens e mulheres da boa vontade, pela mocidade brasileira, que é a grande força motriz deste país, o qual não perderá seu itinerário e não será objeto de desejo mesquinho e subalterno capaz de aliciar conquistas que inexoravelmente virão.
A mocidade não será refém dos violentos, nem o Estado dos infiltrados. Os seus objetivos serão alcançados sem que as ‘sereias de Ulisses’ os guiem para escarpas fatais. Façamos as mudanças de cabeças erguidas, olhos nos olhos, sem censuras ou disfarces, mas com a coragem de que a prática da cidadania verdadeira abrangerá, inexoravelmente, todos que acreditam no Estado democrático de direito.
Artigo publicado no Jornal de Hoje
31 de outubro de 2013
Natal, Rio Grande do Norte