Em sua palestra durante o seminário “Caminhos para o Brasil – Meio Ambiente e Sustentabilidade”, o pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), Luiz Gylvan Meira Filho fez um balanço sobre “O que a ciência recomenda para que se alcance os 2ºC até o fim do século”. Gylvan foi co-presidente do Grupo de Trabalho Científico do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) e vice-presidente do mesmo Painel.
O IPCC é uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas (ONU) pela iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM). “A convenção discutida no IPCC é uma lei mundial. Foi feito um acordo de que o aumento da temperatura média global deveria ficar abaixo de 2 graus Celsius”, afirmou.
O pesquisador do IEA/USP explicou que o aumento nas emissões de gases geram uma potência de aquecimento que causam aumento do nível do mar, entre outras coisas que acarretam em ”perdas para animais, pessoas, agricultura, perdas para a vida como um todo. “O processo de adaptação é muito mais lento do que a mudança que vem ocorrendo. Se a temperatura aumentar acima de 2 graus Celsius, as perdas serão intoleráveis”, complementou.
Gylvan falou sobre a relação entre emissão de gases de efeito estufa e aumento da temperatura e o quanto precisa ser reduzido. Para limitar o aumento da temperatura, é necessário que pare de aumentar a concentração de gases. O primeiro relatório do IPCC, de 1990, indicava a necessidade de reduzir em 60% as emissões globais de dióxido de carbono. Atualmente, é preciso reduzir em mais do que 70% em relação aos níveis atuais, o equivalente a uma nova revolução industrial”.
“Outro aspecto importante é saber quando essas reduções precisam ocorrer. Há um atraso de 40 ou 50 anos entre as emissões de dióxido de carbono e a mudança do clima que ela provoca na prática. No caso do metano são 20 anos e do óxido nitroso, 40 anos também. Para estabilizar a temperatura em 2100, há que se estabilizar as emissões em 2050. As decisões de hoje afetarão as emissões de 2050 e, consequentemente, a temperatura em 2100”, explicou.
O pesquisador do IEA/USP colocou três grandes desafios a serem cumpridos pelo Brasil para ajudar no cumprimento da meta de aumento da temperatura terrestre. “O Brasil precisa saber como gerar e usar sua energia, como cuidar do estoque de carbono da biosfera terrestre e como lidar com a questão do nitrogênio na agricultura, muito utilizado na agricultura moderna, extremamente importante, mas que libera óxido nitroso, um gás de efeito estufa”, concluiu.