Publicado em 20-11-15
Nos últimos dias, o Brasil presenciou um enorme desastre. As barragens de Fundão e Santarém, que pertencem à mineradora Samarco, e recebiam os rejeitos de minério de ferro se romperam e inundaram de lama o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana-MG. Além dos mortos e desaparecidos, centenas de pessoas estão desabrigadas, o dano ambiental é incalculável, e os prejuízos se espalham por toda a extensão do Rio Doce. Mas ainda há uma coisa que me preocupa muito, e que não costuma entrar no cálculo da imprensa. Como será a economia da cidade após o incidente?
De acordo com dados oficiais do IBGE, o município de Mariana tem aproximadamente 80% do seu PIB relacionado à indústria, quase 19% a serviços (com destaque para o turismo) e menos de 1% à agropecuária. Horas após o desastre, devido à lama nos pontos de captação de água, o abastecimento teve de ser cortado, sem previsão para a volta do serviço.Com isso, o agronegócio não tem como mais irrigar suas plantações nem dar de beber aos animais. Com o luto e o caos na cidade, bares, hotéis e restaurantes tiveram seu movimento drasticamente reduzido. O intenso fluxo de pessoas e a comunidade local ainda ajuda a resistência dos pequenos comércios locais. Isso já é um baque grande no fluxo econômico da cidade. Mas o desastre não termina aí, e infelizmente o pior ainda pode estar por vir.
Foi anunciada nesta semana licença remunerada para 1.450 funcionários da Samarco em Mariana, chegando a 2.500, quando somados os empregados licenciados pela empresa no Espírito Santo. O Ibama anunciou também duas multas que podem chegar a R$ 50 milhões cada para a empresa. Além da reconstrução das barragens, a indenização das famílias, a limpeza do terreno… o prejuízo é assombroso. Podem demorar anos para que o desastre seja reparado. E quem sofre com isso, mais uma vez, é a população de Mariana e cidades do entorno. Trabalhadores, prestadores de serviços e empresas que mantinham contrato com a mineradora ficarão sem seu parceiro comercial. A economia já está sendo afetada drasticamente.
Tempos de crise, entretanto, nos obrigam a pensar no futuro. Juntamente com iniciativas para tentar reparar os danos ambientais, econômicos e sociais causados pela tragédia, é preciso pensar em um modelo de desenvolvimento sustentável para Mariana. Tornar mais atrativo, por exemplo, o turismo desta histórica cidade, que foi a primeira capital de Minas Gerais. Além disso, é fundamental que sejam fomentadas outras vocações econômicas do município, para que seja possível atender as necessidades e as demandas das gerações vindouras.
É essa postura de responsabilidade, não apenas com o presente, mas também com o futuro, que se espera das lideranças que atuam na região.