Diálogos encontrados no celular do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu mostram que o condenado no mensalão discutia com interlocutores petistas as indicações dos ministérios do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e previa dificuldades para a petista. As revelações foram encontradas em mensagens de Whatsapp no celular do ex-ministro apreendido pela Polícia Federal na operação Lava Jato e confirma que Dirceu, embora afastado oficialmente da política, ainda acompanhava de perto as movimentações do PT enquanto ainda cumpria sua pena em regime domiciliar de sete meses e 11 anos de prisão por corrupção no mensalão.
Segundo matéria do jornal O Estado de S.Paulo desta terça-feira (29), as mensagens são de 15 dias após Dilma ser reeleita no segundo turno da disputa presidencial em 2014. “Tem que ser nomes com visibilidade e aceitação na sociedade em amplos setores de cada área, senão não acabará bem esse mandato”, avaliou Dirceu na troca de mensagens com a historiadora e militante petista Maria Alice Vieiras em 10 de novembro de 2014. Na época, a ex-ministra e senadora Marta Suplicy estava prestes a deixar o Ministério da Cultura e, posteriormente, o próprio PT ao se filiar ao PMDB em setembro de 2015 para suposta disputa à prefeitura de São Paulo em 2016.
De acordo ainda com o Estadão, Maria Alice, ex-assessora política de Dirceu, conversava com ele sobre diversos assuntos políticos nessa época e também articulava o contato do ex-ministro com colegas e políticos. “Falei com Fernando sobre cultura e ele citou Samuel Guimarães…viu que Marta já fala em ir para outro partido, disputar a eleição em 16!!!”, exclamou o ex-ministro. “Barreto vem almoçar quarta-feira, disse que é urgente, deve ser o mesmo assunto”, segue Dirceu, que não poupa críticas ao PT no diálogo. “Por aqui o que se diz que ela no PT disputará prévias com Haddad, uma loucura. Samuel não tem condições, acho que. Porque mesmo que todos esses processos são tão mal encaminhados?”, indaga Maria Alice.
“Não acredito que o PT aceitará e cometerá de novo esse erro”, responde o ex-ministro. “Ele e ela se desentenderam pelo visto, e muito, no passado…”, segue o petista, que discute nomes com Maria Alice e chega a sugerir o nome do ex-prefeito de Ouro Preto (MG), Angelo Oswaldo e pede para Maria Alice sondar com petistas mineiros sobre o assunto.
Conforme o Estadão, um dia após o diálogo, Marta Suplicy deixou oficialmente o Ministério da Cultura, pasta assumida por Juca Ferreira e, em abril de 2015, ela se desfiliou do partido com duras críticas ao PT – desgastado com os desdobramentos da operação Lava Jato que apontam o partido como um dos principais beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Em agosto de 2015, Dirceu foi preso – enquanto ainda cumpria prisão domiciliar no mensalão – acusado de receber propinas no esquema de corrupção na Petrobras e atualmente é réu na Justiça Federal no Paraná respondendo pelos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro. No último dia 24 de dezembro, a presidente Dilma publicou um decreto de indulto natalino que pode livrar o ex-ministro da Casa Civil de sua pena pelo mensalão, mas não livra o petista do processo na Lava Jato.
