O tempo fechou para as economias dos países ditos emergentes. E o Brasil está para se molhar na tempestade que se prenuncia no horizonte. O país teve tempo de sobra para se preparar para turbulências mais sérias, mas a opção da gestão Dilma foi tentar empurrar os problemas com a barriga, na esperança de que o mandato acabasse logo. Não vai dar.
Os últimos dias têm sido de desconfiança generalizada nas economias emergentes, com alta de taxas de juros e desvalorização das moedas. O dinheiro que andou por estes lados nos últimos tempos está voando para países mais robustos e economias que ora ensaiam recuperar-se, como é o caso da americana.
Ontem mais um passo foi dado, com o banco central dos EUA (Fed) anunciando que vai reduzir ainda mais a injeção mensal de recursos na economia de lá. Serão US$ 10 bilhões a menos a partir do mês que vem. A iniciativa não surpreende, pois é parte de um processo que acompanha a recuperação econômica americana – que deve crescer 2,8% neste ano.
O mais surpreendente é alguns países serem pegos de calça curta no meio deste processo, como é o caso do Brasil. O rebuliço global nos abalroa num momento em que o país só tem resultados ruins para mostrar ao mundo. Fruto da leniência com que a presidente Dilma Rousseff conduziu nossa economia, prescindindo de prepará-la para uma etapa que sempre se anunciou difícil.
Durante longo tempo, a gestão petista insistiu que os contratempos enfrentados aqui dentro não eram problemas nossos, mas sim causados pelas outras economias. Com este diagnóstico equivocado, eximiu-se de tomar as medidas necessárias para resguardar a solidez das contas públicas, manter o crescimento e segurar a inflação. O resultado é que, em todos estes quesitos, vamos agora muito mal.
No mesmo instante em que a economia global mostra-se convulsionada, o Brasil apresenta-se aos olhos do mundo como um país em que as contas públicas são despudoradamente manipuladas pelo governo e compromissos fiscais são desdenhados. Surge também como uma economia em que a inflação mostra-se alta e renitente, mas nem assim é combatida com o vigor devido pela política econômica.
Além disso, temos nossas fraquezas nas contas externas, acossadas por déficits nas transações que mantemos com o resto do mundo. Em serviços, por exemplo, temos rombo de US$ 47 bilhões, o maior que já se viu, como informa hoje o a href=http://www.valor.com.br/brasil/3413074/deficit-na-balanca-de-servicos-e-recorde-em-2013 Valor Econômico. Na indústria, a situação é ainda mais catastrófica: déficit de US$ 105 bilhões no ano passado, informou O Estado de S.Paulo há duas semanas.
Tais comportamentos levaram o resultado das nossas contas externas a um buraco recorde em 2013. O saldo negativo nas transações correntes – que computam receitas e despesas com a negociação de bens, serviços e doações feitas entre residentes no país e pessoas no exterior – cresceu 50% em relação a 2012, chegando a US$ 81,4 bilhões, ou 3,7% do PIB. Péssimas credenciais a mostrar numa hora como esta…
Estes são dados que falam por si. Mais que isso: berram por si. Mas a presidente da República e seus gestores econômicos agem como se eles não existissem ou como se pudessem ser ignorados. Só isso explica, por exemplo, a tibieza com que Dilma se apresentou à plateia de Davos, há uma semana, jogando fora uma chance de ouro de diferenciar-se de outras economias em desgraça.
A presidente passou pela Suíça como quem vai a passeio, como quem apenas cumpre mera etapa de um rolezinho pela Europa – com escala devidamente reconfortante em Portugal… Poderia ter se apresentado para a nata que forma a opinião no mundo das finanças globais como a chefe de um país que pretende retomar a rota da boa governança. Mas simplesmente limitou-se a defender supostas virtudes de um modelo fracassado. Falhou redondamente, e num momento crucial.
Diferentemente dos países que ora afundam com a crise global, o Brasil teve oportunidade e tempo para preparar-se e afastar-se da onda de desconfiança, incertezas e descrédito. Mas as iniciativas tomadas pelo governo da presidente Dilma Rousseff nos levaram na direção contrária. Ao invés de fugir da tempestade, o país corre risco de chafurdar no mesmo atoleiro em que penam hoje os demais emergentes.