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“Palanque energético”, por Miriam Leitão

6 de fevereiro de 2014
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apagao-foto-divulgacao-300x200Ventos de 1.200 megawatts de energia são desperdiçados desde o ano passado porque ainda não foram construídas as linhas de transmissão; meia Itaipu é jogada fora por falta de um programa de poupança de energia; o consumo foi incentivado em época de reservatórios cada vez mais magros. O governo comete erros porque misturou eleição com política energética.

O erro original é a mistura de interesses eleitorais de curto prazo com a necessidade de uma política racional na área energética. Por ter misturado, o governo não admite falhas, nem faz campanha de racionalização do uso de um bem cada vez mais escasso e cada vez mais caro no país. Também por interesse unicamente eleitoreiro, a presidente Dilma, com seu marqueteiro a tiracolo, convocou rede nacional, no ano passado, para anunciar a queda do preço da energia, exatamente quando o custo estava subindo.

Um bom programa de aumento da eficiência energética, de combate aos desperdícios do sistema, de convocação para o uso racional na energia, teria efeitos positivos. Além disso, seria preciso investir na recuperação dos reservatórios. A dimensão das perdas é enorme. A população brasileira já provou que consegue, famílias e firmas, reduzir o consumo em época de crise.

Em fevereiro, a chuva estimada é de 55% da média histórica de 88 anos. Ou seja, não haverá água suficiente para elevar o nível dos reservatórios que, hoje, estão no Sudeste e no Nordeste em torno de 40%. Em março, a previsão é que chegará à média histórica, mas já será o fim da estação de chuvas. Isso fará com que as térmicas sejam usadas por mais tempo, o que elevará o custo para o Tesouro de manter a fantasia da energia barata. No mercado livre, o preço está no máximo, R$ 822 o MWh, quando a média do ano passado ficou em R$ 263.

A crise atual não é do tamanho da que ocorreu no governo Fernando Henrique. Naquela época, a falta de planejamento fez com que, após um ano de crescimento forte em 2000, e a queda forte do nível de chuvas em 2001, fosse necessário o racionamento de energia.

Com o então ministro Pedro Parente na gerência da crise, o governo admitiu o erro e criou a fórmula de usar as termelétricas a combustível fóssil para socorrer o sistema em época de falta de água nos reservatórios. Mas era uma emergência. Daí para diante houve tempo e chuva em abundância por anos a fio para que o governo pudesse construir uma solução mais duradoura.

Quando Dilma Rousseff assumiu o Ministério das Minas e Energia, ela não demonstrava ter interesse nas novas renováveis — fontes como eólica e solar. E até hoje é assim. As eólicas cresceram porque lutaram para entrar nos leilões competindo com energia hidrelétrica com alto subsídio. Aumentou-se a capacidade nessa fonte — e o governo se jacta disso. Mas o desmazelo é tamanho que parques eólicos equivalentes a uma hidrelétrica de Serra da Mesa, ou três Três Marias, produzem em vão. A Chesf, que ganhou o leilão para construir a linha, não a construiu. Essa energia poderia reduzir a necessidade de térmicas sujas e caras. A energia solar que merecia ser subsidiada nesse início — pela sua qualidade em termos de emissão e sua abundância neste país ensolarado — não recebe qualquer atenção.

O governo se comporta de forma irresponsável por razões eleitoreiras. Tem medo de admitir qualquer falha ou fazer campanha de racionalização de uso porque teme reduzir a força do discurso de que a gestão Fernando Henrique errou. Ora, o governo FH errou na energia. Alguém duvida? O problema são os erros de agora que se acumulam, fazendo o sistema operar no limite. É preciso descer do palanque nessa questão e evitar que a crise se agrave.

*O artigo acima foi publicado no O Globo na edição desta quinta-feira (6)

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