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Entrevista coletiva do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves

IMG_8772Entrevista coletiva do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves

Brasília – 15-10-15


Assuntos: declarações da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, impeachment, Joaquim Levy, novo rebaixamento da nota do Brasil, afastamento do presidente da Câmara.

 

Sobre as declarações da presidente Dilma e ida do ministro Joaquim Levy ao Congresso

 

O Brasil assistiu nesses últimos dias a declarações sucessivas da presidente da República que, na verdade, reedita seu script eleitoral. A presidente volta para o palanque, lê discursos escritos por seus marqueteiros buscando se vitimizar para seguir o velho roteiro de atacar a honra das oposições. Até aqui ninguém atacou, como ela disse, a honra da presidente da República, mas nós não aceitaremos de forma alguma que a honra das oposições seja atacada.

E eu pergunto: Que moral tem um governo como o do PT e da presidente Dilma que quebrou o Brasil para vencer as eleições para atacar a honra das oposições? Que moral tem o governo do PT e da presidente Dilma para atacar a honra das oposições se distribui os espaços de poder na área da saúde, que descuida da vida das pessoas em troca de votos no Congresso Nacional? Que moral tem o governo que viu montar na sua estrutura uma instituição criminosa para assaltar a nossa maior empresa em benefício de um projeto de poder para atacar a honra das oposições? Que autoridade tem o governo que ao conduzir uma política econômica irresponsável levou mais de um milhão de empregos das famílias brasileiras só este ano para atacar a honra das oposições?

 

Faria muito melhor a presidente da República se rasgasse o script escrito pelos seus marqueteiros e falasse a verdade, e assumisse a sua responsabilidade pelo que vem acontecendo com o Brasil, que explicasse por que o Fies teve neste ano em relação ao ano passado cerca de metade das matrículas? Por que o Pronatec da mesma forma que teve três milhões de matrículas no ano eleitoral terá apenas um milhão e trezentos este ano? Por que a presidente não vem a público olhando nos olhos dos brasileiros para dizer por que os cerca de quatro bilhões que estavam no orçamento para a construção das creches tão alardeados durante a campanha eleitoral fossem cortados? Por que o programa Ciência sem Fronteiras que ano que vem não tem mais vagas foi também apresentado com uma das peças mais importantes da sua propaganda eleitoral?

 

Faria melhor a presidente da República se dissesse que a responsabilidade para que nós tenhamos hoje, no Minha Casa, Minha Vida, cerca de 35% a menos de investimentos em relação ao que tivemos no ano eleitoral, é responsabilidade do seu governo.

 

Sobre pedaladas fiscais

 

O Brasil sabe que a presidente da República se elegeu mentindo aos brasileiros. Infelizmente, a mentira continua. Seguindo certamente o script do seu marqueteiro, a presidente e o seu entorno começam a justificar as pedaladas dadas. Passaram meses mentindo, dizendo que não houve pedaladas. Depois da decisão por unanimidade do TCU, admitem as pedaladas e ensaiam o discurso de que elas serviram para pagar o Bolsa Família ou para pagar o Minha Casa, Minha Vida.

 

Mente novamente o governo. A parte menor das pedaladas diz respeito à Caixa Econômica Federal e a esses benefícios. No final do ano passado, não chegou a R$ 2 bilhões o débito do Tesouro para com a Caixa, para pagar os benefícios do Bolsa Família. Mas chegou a R$ 50 bilhões o déficit do Tesouro para com outros bancos, como Banco do Brasil e BNDES, para pagar subsídios de outros programas. Para quem? Para os grandes empresários.

 

O governo do PT deixou há muito de ser o governo dos pobres. É o governo da Bolsa Empresário, é o governo daqueles que mais podem, e nós da oposição não vamos aceitar que a mentira continue a conduzir as ações desse governo.

Sobre ministro da Fazenda

 

Quero fazer aqui um registro de um depoimento que vi ontem, aqui no Congresso Nacional, do ministro Joaquim Levy, que conheço há muito tempo e com quem tenho um convívio extremamente correto e republicano. Mas não é adequado que o ministro se comporte como ministro de um governo novo, recém-chegado, e aqui tem que terceirizar as responsabilidades que são do governo ao qual ele serve hoje, para aquilo que pode vir.

 

Seria mais correto que o ministro chegasse aqui e dissesse: os desatinos da política econômica nos últimos anos, os equívocos sucessivos cometidos pelo governo da presidente Dilma, levaram a um caos na economia, à paralisação da atividade econômica com crescimento negativo de 3% este ano e previsão de um novo crescimento negativo para o ano que vem, com inflação em torno de 10% e a de alimentos muito acima disso, punido aqueles que menos têm.

 

Faria melhor o ministro se admitisse que a responsabilidade agora pelo rebaixamento por mais uma agência da nota de crédito do Brasil é responsabilidade exclusiva deste governo. Não aceitaremos esta tentativa de transferência de uma responsabilidade, que não é do Congresso, porque o Congresso durante todos os últimos anos do governo da presidente Dilma aprovou integralmente todas as matérias de interesse da área econômica que aqui chegaram. O que ocorreu é que o governo, como disse a própria presidente da República, fez o diabo para vencer as eleições e, agora, apresenta a conta para a sociedade brasileira. E é preciso que a sociedade saiba que esta conta é de responsabilidade exclusiva do governo do PT e da presidente da República.

Sobre discursos da presidente Dilma.

 

Obviamente é um script feito pelo marqueteiro. O mesmo da campanha eleitoral. A presidente tenta se vitimizar e atacar as oposições. Mas nós da oposição, não aceitaremos este ataque torpe porque não reconhecemos no governo da presidente da República autoridade moral para questionar a nossa atuação. A presidente continua a lembrar, permanentemente, e isso é correto, que ela teve 54 milhões de votos e venceu as eleições. É correto. Está na hora de ela começar a governar o Brasil. E governar é algo muito mais complexo do que simplesmente atacar as oposições e distribuir cargos no Congresso Nacional.

 

As dificuldades que o Brasil vem passando e vai passar ainda são gravíssimas e só a presidente da República é que poderá decidir o seu destino. Ou ela começa a governar o Brasil, com a grandeza que o cargo de presidente da República exige que se tenha, ou ela própria estará definindo o desfecho do seu mandato. Vou cumprir com a responsabilidade que tenho com o Brasil a partir dos 51 milhões de votos que tive para fazer oposição a este governo que na minha avaliação perdeu as condições morais de continuar conduzindo o Brasil.

 

Sobre rebaixamento da nota do Brasil pela agência Fitch.

 

O rebaixamento da nota do Brasil por mais esta agenda era esperado. Esperado pelo conjunto da obra do governo. As contas do país vêm se deteriorando de forma extremamente grave e o que é mais sensível a essas agências é a percepção de que o atual governo perdeu as condições, perdeu a capacidade de orientar, de sinalizar para uma agenda nova, de retomada do crescimento, de controle da inflação e de reanimação da economia. Todos os indicadores que nos chegam vêm na direção contrária.

 

A percepção que tem, e talvez essa tenha sido uma das motivações para o rebaixamento já esperado pela agência Fitch, é de que se percebe que o governo da presidente Dilma já não governa. Houve uma terceirização de responsabilidades, há uma enorme incoerência na ação do governo, porque no mesmo momento em que o ministro da Fazenda vem ao Congresso Nacional tentando terceirizar ou compartilhar responsabilidades que são desse governo, nesse mesmo instante estamos vendo algumas das bases desse governo se manifestando contra a proposta do ministro da Fazenda.

 

É preciso que o ministro da Fazenda converse com o governo para saber se o governo apoia suas medidas antes de vir aqui pedir à oposição ou a outros atores da política ou do Congresso Nacional, apoio a elas. O que percebemos é que o governo do PT quer ser ao mesmo tempo oposição quando isso lhe convém, e governo quando isso lhe é favorável. E é exatamente essa ambiguidade do governo que em determinados fóruns, com a presença inclusive do ex-presidente da República, condena as medidas do ajuste fiscal – e faz isso com absoluta clareza – e de outro lado as posições do ministro que vem aqui cobrar atitude do Congresso Nacional. Essa ambiguidade, na verdade, deve ter sido um dos fatores principais que levaram à diminuição da nota, ao rebaixamento da nota do Brasil mais uma vez.

 

Sobre as articulações do ex-presidente Lula com Eduardo Cunha para evitar o impeachment.

 

Eles estão no seu papel. Nós da oposição – vou deixar isso aqui muito claro – tivemos em vários momentos, neste último ano, ano e meio, entendimentos com presidente da Câmara dos Deputados que ampliou o espaço de atuação das oposições na Câmara dos Deputados. Tudo isso feito absolutamente à luz do dia. Tivemos participações em comissões de inquéritos que estão investigando denúncias em relação ao governo, outras foram abertas. Relatorias importantes como a da Reforma Política foram conduzidas pela oposição. Isso é do jogo parlamentar. Mas no momento em que essas denúncias em relação ao presidente da Câmara chegam, e elas são gravíssimas, obviamente, cabe a ele se defender, e, obviamente, o PSDB não tem nenhum compromisso com eventuais irregularidades que possam ter sido cometidas por ele.

 

Qual será a posição do PSDB?
A posição do partido já foi colocada e nós reiteramos. O caminho que achamos mais adequado é o afastamento do presidente da Câmara da Presidência para que ele possa se defender. E o PSDB votará no Congresso Nacional, e na Câmara dos Deputados de forma especial, com base nas provas que serão apresentadas.

 

O PSDB vai endossar o pedido de quebra de decoro parlamentar?

Acho que esta é uma decisão da Câmara. Há ali uma cobrança para que o PSOL também pudesse endossar o pedido de afastamento da presidente da República. Mas esta não é a questão essencial.

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