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“O que interessa”, por Antonio Anastasia

antonio anastasia foto Gerdan Wesley 2Manhã do dia 12 de outubro de 2015. Angus Deaton acabara de receber a notícia de que tinha sido o premiado do ano no Nobel de Economia. A seguir, a equipe de comunicação do prêmio telefonou para sua casa para uma pequena entrevista. A intenção era captar de pronto a emoção e o sentimento pelo recebimento de um dos maiores prêmios do mundo na área que escolhera para dedicar sua vida. Foi uma conversa informal e rápida, tendo o repórter, em dado momento, perguntado sobre o núcleo de seu trabalho.

PhD em economia pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e professor na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Deaton recebeu o reconhecimento por sua pesquisa e análise que envolve consumo, pobreza e bem-estar. Suas conclusões ajudaram governos na formulação de políticas públicas para o combate às péssimas condições de vida.

Ao ler sua entrevista, lembrei-me do trabalho que desenvolvemos a partir de 2011 no governo de Minas por meio de um projeto chamado Porta a Porta. Com o intuito de lutar contra a miséria e melhorar a vida daquelas pessoas que mais precisam da ação do Estado, fomos, como o próprio nome diz, de porta em porta para identificar as limitações e privações da população.

O objetivo parece simples. E é, de fato. Mas, até então, nenhum governo havia realizado tal levantamento no Brasil. Diversas políticas públicas de combate à carência extrema foram implementadas sem que se tivesse conhecimento das verdadeiras necessidades das pessoas ou o que as levava àquela situação. Como era preciso priorizar e, infelizmente, não havia lastro para levarmos o projeto de uma só vez para todos os municípios, iniciamos o diagnóstico naqueles com menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).

Ficou claro, assim, que em algumas famílias o grande problema era a ausência de educação, uma vez que as crianças estavam fora da escola e os pais, sem qualificação profissional, não conseguiam emprego. Em outras, o maior problema era a saúde. Por falta de saneamento básico, havia muitas doenças que prejudicavam o desenvolvimento integral dos bebês ou que acarretavam a morte precoce de crianças e adultos, tanto por falta de informação quanto de medicamentos. Em outras, ainda, o problema era álcool ou drogas, nas quais se mostrava imperioso um acompanhamento de assistência social mais efetivo. Não raro, o que se via era uma mistura de todos esses problemas.

Esse diagnóstico foi fundamental porque, pela primeira vez, o Estado não atuaria por ‘achismos’, mas fundado na real necessidade daquela comunidade ou daquela família específica. E, com essas ações, iniciamos projetos que serviram de exemplo para outros estados e para o próprio governo federal.

Volto, pois, ao Nobel de Economia. Naquela entrevista, o repórter questionou Deaton sobre a razão de seu trabalho de coleta de dados ser tão importante a ponto de ser reconhecido com uma premiação dessa envergadura. De forma singela, o PhD respondeu: “A gente precisa entender o que mexe com as pessoas, o que é bom para elas. Para mim sempre se tratou disso, entender o comportamento das pessoas para poder intervir”.

De fato, percebemos, de nada valem grandes estudos, números e mais números, teorias econômicas elaboradas, se não tivermos claro o destinatário final de cada política pública. O que interessa, de fato, são as pessoas.

Senador (PSDB-MG). Publicado no jornal Hoje em dia, em 27/10/15

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