Brasília (DF) – Embora já tenham se passado dois meses do afastamento da presidente Dilma Rousseff sem que ela tenha conseguido avançar no seu objetivo de obter mais votos de senadores contra o impeachment, aliados da petista ainda continuam dizendo que é possível mudar o placar – que, hoje, apresenta uma boa margem a favor do impedimento. No entanto, apesar do otimismo do PT, Dilma já está retirando, aos poucos, seus objetos pessoais do Palácio da Alvorada e levando-os para seu apartamento em Porto Alegre.
De acordo com o jornal O Globo desta segunda-feira (18), as viagens para a capital gaúcha são as únicas que a presidente afastada ainda pode fazer em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). O Senado autorizou o uso das aeronaves oficiais, gratuitamente, apenas para Dilma embarcar para a cidade onde mora. Sempre que embarca para a cidade, a petista consegue levar duas malas com seus pertences pessoais, além da bicicleta, com a qual se acostumou a fazer seus exercícios diários.
Segundo a reportagem, mesmo sabendo que as chances de reverter o processo de impeachment no Senado são baixas, a petista decidiu manter o discurso de que é vítima de um golpe. Em Brasília, Dilma tem recebido senadores aliados e concedido entrevistas a emissoras de rádio. Interlocutores contam que ela está “sóbria”, consciente das dificuldades de virar o quadro político, mas sem desistir dos planos de voltar à Presidência.
Na avaliação do deputado federal Domingos Sávio (PSDB-MG), a presidente afastada deveria fazer um gesto de humildade a favor dos brasileiros e abreviar esse processo para que o país possa, enfim, caminhar dentro da normalidade. “Hoje, o Brasil sabe que é inaceitável imaginar que Dilma volte a conduzir o país, até porque, em seus últimos meses no governo, ela já não conduzia nada. Pelo contrário, levou-nos a uma situação trágica e qualquer hipótese de retorno torna o cenário mais trágico ainda. Pelo bem de todos, a renúncia seria o melhor dos caminhos”, afirmou.
A argumentação de quem conta com a possibilidade de reversão do quadro é que a denúncia sobre as “pedaladas fiscais”, uma das bases do impeachment, se fragilizou depois que a perícia do Senado e o Ministério Público Federal isentaram Dilma de ter atuado pessoalmente nas operações de crédito do Plano Safra. Para o Tribunal de Contas da União (TCU), a medida caracterizou a manobra financeira.
A publicação diz ainda que o time de Dilma não descarta que, até o fim de agosto, quando o impeachment será julgado pelo plenário do Senado, apareça um fato novo contra o governo do presidente em exercício, Michel Temer, ferindo “mortalmente” o peemedebista. Nos bastidores, alguns aliados da petista torcem por uma nova delação, como a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é ligado ao núcleo político do governo Temer e sempre foi próximo do peemedebista.
Para o tucano, embora a petista e seus aliados saibam que a possibilidade dela voltar é “mínima”, eles ocupam todo o tempo possível para insistir na “falsa tese” do golpe e continuar tentando “enganar” o povo brasileiro.
“O PT faz isso como se fosse vítima, sendo que, na verdade, o Brasil foi vítima desse partido durante anos e o estrago foi grande. Enquanto nós estamos há meses tendo a paciência democrática de buscar um novo caminho para o país, a gente viu neste fim de semana na Turquia uma real tentativa de golpe, com militares tentando depor um presidente eleito sem nenhum tipo de procedimento democrático. Aquilo sim é golpe. Aqui, não. As coisas estão acontecendo com muito cuidado e respeito aos princípios constitucionais. Mas, infelizmente, Dilma vai fazer o país sangrar até o último minuto e tentar passar para a história a ideia de que ela é vítima, quando, na verdade, vítimas somos nós”, completou.