Brasília (DF) – O pagamento de propina ao PT em troca da liberação de empréstimos do BNDES para financiar projetos no exterior, caso de uma siderúrgica construída pela Andrade Gutierrez na Venezuela, era rotineiro. Um relato de empreiteiros de duas construtoras ao jornal Folha de S. Paulo (24/04) revela que o esquema previa o pagamento de 1% do valor de cada contrato ao PT, sempre que as obras tinham financiamento do BNDES.
Segundo a reportagem, os investigadores da Operação Lava Jato estão apurando se a propina, já admitida pela Andrade Gutierrez – segunda maior empreiteira do país –, era cobrada de todas as empresas em todos os projetos financiados pelo BNDES fora do Brasil.
Junto com a Andrade Gutierrez, o banco financiou projetos de empreiteiras como a Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão, todas também investigadas pela Lava Jato, além de outras empresas com forte atuação na África e na América Latina.
Em delação premiada, o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio de Azevedo, contou à Justiça que, assim que saía a primeira liberação de recursos do BNDES, a construtora era procurada pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, hoje preso em Curitiba, para o pagamento da propina. No caso da obra na Venezuela, ele disse ainda que a empreiteira pediu ajuda ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que intercedesse a favor da empresa na concorrência pelo contrato.
Um dos empreiteiros ouvidos pela Folha destacou que os pagamentos referentes ao financiamento do BNDES eram feitos para que as construtoras evitassem problemas futuros com o governo que pudessem prejudicar novos projetos no exterior.