A má gestão da Petrobras vem afetando negativamente a economia de todo o país, mas poucos profissionais podem se dizer tão prejudicados pela crise na estatal quanto os oficiais formados pela Marinha para trabalhar em embarcações que prestam serviços para as plataformas de petróleo. Apenas no ano passado, 90 navios que realizavam esse tipo de apoio deixaram o Brasil. Além disso, o estoque de empregos no setor caiu 11% no Rio de Janeiro, segundo informações de matéria publicada pela Folha de São Paulo nesta terça-feira (9). O estado concentra a maior parte de empresas que realiza esse tipo de atividade no país.
A situação fica ainda mais grave por conta do aumento do contingente de trabalhadores do setor nos últimos anos. Entre 2006 e 2013, o número de formandos nas escolas de formação de oficiais da Marinha quase triplicou, passando de 365 para 1058. A alta aconteceu em tempos em que o segmento se expandia e a demanda era crescente, mas o cenário atual apresenta uma realidade completamente diferente.
“Entrei na escola com o mercado bombando e me formei quando estava descendo a curva”, afirmou à reportagem da Folha Caio Puejo, que se tornou oficial da Marinha em 2013, no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), no Rio de Janeiro, a maior escola de formação de marítimos do país. Em janeiro, Puejo foi demitido após trabalhar pouco mais de um ano para uma companhia de navegação que teve de reduzir o número de empregados após três das seis embarcações de apoio às plataformas de petróleo que tinha no país ficarem sem contrato.
As perspectivas para os novos formandos devem ser ainda menos otimistas. O presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindmar), Severino Almeida, revela que o segmento deve ter dificuldades para empregar os novos oficiais. “Não sabemos como o mercado vai conseguir absorver esses profissionais que se formam em 2016, 2017, 2018. Não podemos chegar na escola e dizer: desculpe, mas você deveria buscar outra profissão”, comentou.
Além da crise na petrolífera, outro problema que afeta a demanda por marítimos é a indefinição sobre a renovação da frota da Transpetro, subsidiária da Petrobras. A empresa estimava ter 49 novos navios até 2016, mas até agora apenas 12 foram entregues.
A Marinha informou, ainda segundo a Folha, que pode rever o número de vagas nas escolas formadoras de oficiais se a procura pelos profissionais continuar baixa.