Brasília (DF) – Ouvido pela Justiça Federal na última sexta-feira (29/01), o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu afirmou ao juiz Sérgio Moro que o salário de R$ 120 mil por mês cobrado por ele para prestar consultoria a empresas investigadas pela Operação Lava Jato era “irrisório”.
Segundo Dirceu, as empresas pagavam para usar o seu nome e prestígio no Brasil e no exterior. Perguntado pelo juiz Moro como era definido o valor pago pela empreiteira Engevix, o petista declarou que “sem falsa modéstia, R$ 120 mil [por mês] é irrisório”.
Para o deputado federal Caio Nárcio (PSDB-MG), a declaração de Dirceu é prova de que o PT vive em uma realidade completamente diferente da dos demais brasileiros.
“Na realidade dele, talvez achem que R$ 120 mil é algo comum, normal e pouco. Demonstra que se acostumaram a viver em mundo totalmente diferente do que o povo está vivendo, com as dificuldades de se equilibrar as contas com um salário mínimo, com a inflação. Achar que isso é pouco para se viver demonstra como a realidade do PT é deturpada”, destacou.
De acordo com reportagem publicada nesta terça-feira (02/02) pelo jornal O Globo, em quase três horas de depoimento, Dirceu, que é acusado de receber propina no esquema de corrupção da Petrobras, negou ter relação com contratos da estatal, mas admitiu ter recebido favores de lobistas, entre eles a reforma de uma casa em Vinhedo (SP), paga por Milton Pascowitch, e diversas viagens em jatinhos cedidos por Júlio Camargo.
Dirceu afirmou também que notícias de que ele teria enriquecido são falsas. “[Dizem] que tenho um patrimônio de R$ 40 milhões. A minha empresa faturou R$ 40 milhões, 85% são despesas, são custeios. Eu ganhei o que ganha qualquer consultor ou advogado, R$ 60 mil, R$ 80 mil por mês”, disse o petista.
Na avaliação de Caio Nárcio, tanto o escândalo do mensalão quanto os desvios na Petrobras ocorreram com a anuência de Dirceu, que costumava ser o braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Temos assistido a um dos poucos casos em que alguém que já estava preso por um escândalo, o mensalão, teve que ser preso novamente, dessa vez pelo Petrolão. Isso mostra que toda a corrupção girou em torno da atuação do Dirceu como ministro da Casa Civil. Como confiar na palavra de alguém que não tem compromisso algum com a ética e com os brasileiros?”, questionou o parlamentar.
O ex-ministro foi o último dos 15 réus denunciados na 17ª fase da Lava Jato, a “Pixuleco”, a ser ouvido pelo juiz Moro. Ele é suspeito de receber mais de R$ 11 milhões de propina por meio de falsos contratos de consultoria.