Nesta semana foi divulgada a minuta (working paper) de um importante estudo elaborado por dois economistas do FED (o Banco Central Americano) e um do MIT, em que analisam o impacto da epidemia da Gripe Espanhola sobre a atividade econômica. O estudo apresenta sérias evidências de que a adoção de medidas de isolamento social (ou intervenções não-farmacêuticas, no jargão dos economistas) logo no início da epidemia não só é o melhor caminho para salvar vidas, como é também o melhor para a economia, que consegue, assim, se recuperar mais rapidamente depois da epidemia.
O artigo é longo e detalhado e pode ser encontrado, em inglês, aqui. A nossa equipe separou um trecho da parte final do artigo, onde os autores apresentam suas conclusões. Compartilhamos com você a tradução abaixo:
Conclusão
Este artigo examina o impacto da epidemia de gripe de 1918 e consequentes intervenções não-farmacêuticas na atividade econômica real. Utilizando variações através de Estados e cidades dos EUA, nós apresentamos duas mensagens-chave. Primeiro, a pandemia leva à um declínio abrupto e persistente na atividade econômica real. Nós encontramos efeitos negativos na atividade industrial, no estoque de bens duráveis, nos ativos bancários, o que sugere que a pandemia deprime a atividade econômica tanto pelos efeitos no lado da demanda, quanto pelo lado da oferta. Secundo, cidades que implementaram medidas de intervenção não-farmacêuticas com maior rapidez e intensidade não experimentaram uma recessão maior. Pelo contrário, evidências da atividade industrial e dos ativos bancários sugerem que a economia teve um desempenho melhor, após a pandemia, em áreas com medidas de intervenção não-farmacêutica mais agressivas.
No conjunto, nossas evidências indicam que as pandemias são altamente disruptivas para a atividade econômica. No entanto, medidas oportunas para mitigar a severidade da pandemia podem reduzir a severidade da persistente recessão econômica. Ou seja, as medidas de intervenção não-farmacêuticas podem reduzir a mortalidade, ao mesmo tempo em que são economicamente benéficas.
Finalmente, quando interpretando nossas descobertas, há algumas advertências para se ter em mente. Primeiro, a nossa análise é limitada aos dados em 30 Estados e 43 a 66 cidades. Secundo, os dados sobre a atividade industrial não estão disponíveis em todos os anos, de modo que não conseguimos examinar cuidadosamente as tendências prévias entre 1914 e 1919 para os resultados sobre a atividade industrial. Terceiro, o ambiente econômico em direção ao final de 1918 era incomum, em virtude do final da Primeira Guerra Mundial. Quarto, ao mesmo tempo em que há importantes lições econômicas da epidemia de gripe de 1918 para a atual epidemia de COVID-19, nós ressaltamos os limites da validação externa. Estimativas sugerem que a Gripe Espanhola era mais mortal do que a COVID-19, especialmente para os trabalhadores em idade ativa, o que também sugere impactos econômicos mais severos da gripe de 1918. A natureza complexa das modernas cadeias de suprimento global, o papel maior dos serviços e melhorias na tecnologia de comunicação são mecanismos que nós não conseguimos capturar em nossa análise, mas esses são fatores importantes para compreender os efeitos macroeconômicos do COVID-19.