Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) José Pio Borges de Castro Filho fez críticas à política de concessão de créditos adotada pela instituição durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Pio, que comandou o banco entre 1998 e 1999, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, condenou o aporte de R$ 500 bilhões feito pelo Tesouro Nacional no BNDES entre 2008 e 2014, prática que tinha como objetivo estimular a economia brasileira. Para ele, os problemas enfrentados atualmente pela entidade resultam diretamente desse exagero na liberação de recursos.
“Quase todos os erros e críticas à política do BNDES advieram do excesso de recursos. Esse aporte de R$ 500 bilhões do Tesouro ao BNDES gerou a maioria das distorções e dos erros de política que eu aponto”, analisou Pio à reportagem do Valor Econômico. “Isso levou a um excesso de concentração de risco à medida em que, ao invés de financiar projetos em conjunto com o mercado, o banco quase que expeliu o mercado do financiamento de longo prazo. E concentrou riscos desnecessariamente”, ressaltou o ex-presidente do BNDES.
Ele também afirmou que o BNDES “se expôs” por não operar com o mercado nem reciclar os recursos logo que possível, prática consideradas regras no passado. “O BNDES servir de ‘front’ para o Tesouro é um papel indigno para o banco. Se o Tesouro quer financiar estádio de futebol inviável, que não o faça via BNDES. Para acabar com isso, eu não faria mais nenhuma operação com aval do Tesouro, porque se precisar desse aval significa que a operação não é boa”, destacou.
O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) fez coro às críticas de José Pio à atuação do BNDES durante os governos petistas. Na visão do parlamentar tucano, o excesso de crédito criou um cenário “artificial” cujos reflexos continuam sendo sentidos pela economia brasileira.
“Nós sabíamos que uma série de medidas tinham sido tomadas de uma forma irresponsável, inconsequente, que tinham por finalidade num primeiro momento até fazer o aquecimento da economia em alguns setores, ou privilegiar alguns setores do país, mas de uma forma que não era sustentável, artificial, e o que é pior: trazendo prejuízos aos cofres públicos e aos brasileiros e criando distorções de competitividade”, argumentou Lippi.
Na entrevista ao Valor, José Pio também salientou três erros gerados pelo excesso de recursos disponibilizados. “Não operar com o mercado, não vender [as ações] no momento apropriado porque não precisava vender e operações que o Tesouro, como acionista majoritário do banco, mandava fazer. E essas operações podem ser boas, podem ser ruins, mas ele [Tesouro] lava as mãos como se nada tivesse a ver com isso”, disse.
Vitor Lippi avalia que, desde que a ex-presidente Dilma Rousseff deixou o Palácio do Planalto, essa oferta quase que indiscriminada de recursos deu lugar a um modelo mais profissional de concessão de crédito.
“Essa preocupação do BNDES com as pequenas empresas, de ter realmente um critério mais estratégico dos interesses do país, mostra uma outra forma de gerir os recursos públicos, tanto que a própria credibilidade do mercado mostra que o modelo de atuação do BNDES agora está muito mais correto, adequado, mais sério do que no governo anterior”, concluiu o deputado.