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“Não há o que comemorar”, por André Régis

comemorarNão há sociedade próspera e sociedade segura com qualidade de vida elevada, que não tenha investido na educação. Se há algo que é coincidente é o investimento em educação. Se voltássemos no tempo até 1950, veríamos que tanto o Brasil quanto a Finlândia e a Coréia encontravam-se numa situação de muita dificuldade do ponto de vista de educação. Naquele momento da história, a população brasileira era formada por uma quantidade imensa de analfabetos. Atualmente, em pleno Século 21, ainda constatamos essa vergonha nacional porque dez por cento da população brasileira não sabe ler e não sabe escrever. Isso sem falar na questão do analfabeto funcional – que é mais grave.

Eu não conheço ninguém que seja analfabeto por opção. Isso é impossível. Quem é analfabeto é porque foi abandonado pelo estado. É vítima de um sistema e vítima da omissão do governo e da sociedade, pois, não teve uma família para lhe dar amparo. Há sessenta anos, se comparássemos o Brasil com a Finlândia e a Coréia, verificaríamos que os três países estavam em situação de baixo aprendizado e de baixo investimento em educação.

Essas três nações seguiram caminhos diferentes.

Finlândia e Coréia investiram maciçamente na educação e hoje disputam as primeiras colocações do mundo no teste do PISA, feito anualmente pela OCDE para verificar o aprendizado das crianças em Ciências, em Matemática, e na sua língua materna.

Finlândia e Coréia disputam hoje as primeiras posições. Recentemente a disputa foi ampliada por que outros países como o Japão e a China resolveram competir para tentar bater os dois primeiros. Existe uma competição global, que seria boa se também contasse com a presença do Brasil para que o nosso país disputasse também, ombro a ombro, as primeiras colocações do PISA. Esta seria a nossa grande copa do mundo para mudar a realidade do Brasil.

Até porque constatamos que depois de tanto tempo esse conjunto de três países demonstra claramente a diferença que faz em se investir principalmente na qualificação do professor. A Finlândia apostou nisso e os seus professores são tão bem remunerados como um médico, um engenheiro, ou um técnico de ponta. Todos os professores das escolas municipais – e eu tive oportunidade de conhecer o sistema finlandês em Helsinki o ano passado – possuem pelo menos um mestrado. E a diferença vem por conta de uma elevada capacitação do material humano.

E devo ressaltar que na Finlândia não encontrei grande estrutura de tecnologia na arte do ensino, porque as salas de aula de suas escolas são iguais às que eu estudava no Colégio Nóbrega. O investimento que aquele país faz está fundamentalmente voltado para o corpo docente, ou seja, na qualificação profissional.

Naturalmente sem descuidar para que o mínimo necessário destas novas tecnologias sirva de apoio pedagógico. Mas essa tecnologia, e aqui se instala mais uma grande diferença, não pode jamais substituir o intelecto do professor. A Finlândia investiu em seu corpo docente assim como a Coréia também investe.

E o resultado é que depois de sessenta anos, conforme aponta recente pesquisa aplicada pela Nokia, a Finlândia é líder na indústria naval, apesar de ser um país do tamanho de Pernambuco. Conquistou a capacidade de dotar a sua população de um elemento suficiente para que cada cidadão viva com suas próprias pernas num sistema, inclusive, socialmente muito justo.

Já no caso da Coréia, há fartos exemplos como a Samsung, que é líder mundial na tecnologia. São países que saíram de uma condição de extrema desvantagem e agora lideram a disputa pela corrida tecnológica.

São nações que avançam porque sabem que o importante em termos de exportação não são os produtos primários e muito menos as commodities como o petróleo. Exportar petróleo é fácil, mas exportar intelecto é difícil. E nos parece importante que essa recente ênfase ao mundo do petróleo seja vista como uma advertência: a idade da pedra, não acabou por falta de pedra. Assim, como a idade do petróleo não irá acabar por falta de petróleo. O que vale é o intelecto. O que vale é a capacidade de inovação. E nesse sentido estamos ficando para trás. No dia mundial da educação, que comemoramos há pouco, o Brasil não é um exemplo a ser seguido.

Apesar de todas as riquezas produzidas não temos o que comemorar em termos de, no mínimo, pôr fim à figura do analfabeto no nosso país. No teste do PISA, nós estamos entre as cinco piores posições. A nossa criança não sabe ler, não sabe escrever, não sabe fazer contas, não tem noção de ciências. Essa é que é a nossa realidade. Quanto custará isto? Quanto custará cada criança que não foi educada no momento certo? Não dá para fazer esse cálculo. Nós, simplesmente, estamos perdendo a oportunidade de construir um país decente e próspero a partir das nossas crianças, que são nosso principal patrimônio. Elas são abandonadas e lamentavelmente o governo brasileiro não aprendeu o que a ciência já detectou há muito tempo: quanto mais cedo houver o investimento na criança, mais rapidamente teremos o retorno social.

Deixar para depois e investir na idade adulta é inseguro, é incerto, é improdutivo. Quando se investe numa criança, na sua primeira infância, a diferença aparece rapidamente. Então o que devemos fazer é lutar nesta cidade para que haja um governo municipal que priorize, de fato, a educação na primeira infância, que não poupe esforços para que a nossa escola municipal seja capaz de fato de educar e de fazer a diferença.

É injustificável que a nossa criança continue indo para uma escola que não deveria ser chamada de escola, porque na verdade são espaços violadores dos direitos humanos. São espaços onde não há um parque, onde não há uma área para o lazer ou para a prática esportiva, onde simplesmente não há aulas de educação física porque não existem áreas para isso. A rede municipal da cidade do Recife não dota a criança da capacidade de brincar e de jogar embora cada aluno encaminhado às nossas escolas municipais custe 800 reais por mês aos cofres públicos.

Enquanto isso a prefeitura continua gastando milhões com o carnaval e com cargos comissionados. Deveríamos investir com todas as prioridades na primeira infância porque é assim que se faz a diferença. E na passagem do Dia Mundial da Educação todas as nossas atenções deveriam ser, de fato, voltadas para questionar que tipo de educação nós queremos e merecemos. Fica mais do que claro que a média do IDEB de 4.3 no ensino Fundamental 1 e de 3.2 do Fundamental 2 não significa nenhum motivo de esperança ou de comemoração. Muito pelo contrário.

Os resultados da Prova Brasil atestam que na cidade do Recife a nossa criança lamentavelmente não atinge 10% de rendimento satisfatório em matemática e não obtém pelo menos 20% de rendimento satisfatório em português.

Algumas coisas de errado estão acontecendo, como por exemplo, a não avaliação das crianças. Como podemos permitir que um sistema de ensino não avalie a criança e que a criança não faça prova? Que o professor não saiba exatamente qual o rendimento escolar de cada um dos seus alunos? Isso é um procedimento injustificável. Como se admitir que a criança progrida ou avance sem que ela aprenda? Então uma criança avança num ciclo escolar sem aprender?

Certa vez visitei formalmente dois condados, na Flórida, que abrigam as maiores escolas públicas americanas. Estive reunido com supervisores escolares. Esse encontro foi marcado por uma troca de informações. Eles diziam o que estavam fazendo e perguntavam o que acontecia na cidade do Recife. Então mencionei que em nossa cidade era possível uma criança chegar ao nono ano sem saber ler, nem escrever. Então um dos supervisores disse: “Professor, se isso acontecesse aqui todos nós estaríamos presos, porque é inconcebível um sistema público que não eduque, quando ele está repleto de gente ensinando e repleto de gente fiscalizando aqueles que estão ensinando”.

Vale, por oportuno, mencionar notícia de um mês atrás, segundo a qual quatro professores americanos, foram presos por sentença de mais de vinte anos porque mascararam a performance dos alunos com o propósito de aumentar a produtividade dos seus salários. A “pedalada” foi descoberta e na sentença o juiz afirmou que o fato era inaceitável e a sentença deveria ser dura e exemplar, porque o dano causado àquelas crianças seria irreparável. Não teria mais como reparar.

Ao abordar essas questões do ensino público e comparar situações reais, estou também focando exemplos de modelos de sociedades que investem em educação e que a levam a sério. Simplesmente falar da boca pra fora ou em forma de slogan de campanha segundo a qual esta é uma pátria educadora, não ajuda. Projetar o futuro dizendo que as riquezas do pre-sal vão salvar a educação brasileira também não ajuda porque esse enfrentamento não é uma questão de recursos e sim de planejamento de prioridades. Educação nunca foi prioridade nesse país, eis o fato.

E enquanto os professores continuarem a ser mal remunerados, o futuro dificilmente sofrerá modificação.  Não temos uma capacidade gerencial associada a um planejamento estratégico nacional e é por isso que eu defendo a federalização do ensino fundamental. Acredito que ele deve ser federalizado para que a União assuma a responsabilidade dessas prefeituras que não têm sido capazes de ofertar o mínimo necessário para que a criança seja educada.

Se a realidade do Recife é de vergonha, a realidade dos outros municípios é mais trágica ainda. Não temos o que comemorar no dia mundial da educação por conta de falta de visão do governo e também da sociedade. A educação tem que ser prioridade e a ação é para hoje.

Líder do PSDB na Câmara de Vereadores do Recife

Do Portal PSDB-PE

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