Publicado no Blog do Goldman – 09/08/15
Não foi por acaso que Dilma foi a Boa Vista, Roraima, cidade de 300 mil habitantes, quase na divisa da Guiana e da Venezuela, longe dos grandes e vibrantes centros populacionais do Brasil, inaugurar um conjunto habitacional, no momento em que sua legitimidade passa a ser contestada por todo país, para proclamar: “Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu”. Lá, no extremo Norte do país, dificilmente seria molestada e seu discurso seria olvido por todos, através dos meios de comunicação, em particular, do JN da Rede Globo, que lhe deu um espaço de tempo fora do usual, como que para comprovar que contra ela não existe uma conspiração da mídia e da elite.
Lá ela expressou seu conceito de legitimidade. Teve mais votos na última eleição e isso basta. A partir daí, faz o que quer, ainda que o que tenha feito lá atrás – cada dia fica mais claro – tenham sido crimes. Quer nos fazer crer que a eleição lhe deu uma prescrição ou uma anistia em relação ao que fez, e que o que faz agora seja algo que não dá ao eleitor o direito de se indignar por se sentir enganado por ela pelos discursos que fizera e pelos compromissos que assumira.
Dilma não entendeu que a legitimidade do governante é algo que tem de ser conquistada e reafirmada todos os dias, dia após dia.
Se ela, lá atrás, cometeu crimes contra a administração pública, eles não foram prescritos, muito menos anistiados. O mesmo se foi omissa ou conivente com o que ela chama de malfeitos. O que sabemos hoje faz parte de sua história. É indelével.
Se ela hoje não mais consegue agregar apoios suficientes para enfrentar a crise em que vivemos e pela qual ela tem uma enorme dose de responsabilidade, se não consegue levar o país ao caminho da prosperidade que ela prometeu aos eleitores, ela é, sim, passível de rejeição e sua legitimidade se esvai.
A rejeição a ela, em todos os rincões do país, em todas as camadas sociais, já lhe subtraíram a legitimidade com que, em determinado momento, o povo a marcou.
Não se trata de uma questão conjuntural, um mal momento na vida da Nação. A perda da legitimidade provém do colapso do governo no campo moral, no campo econômico e no campo político. Perda de respeito irrecuperável.
Por isso se trata de afastá-la. Seja porque os crimes cometidos em sua campanha eleitoral sejam julgados no Tribunal Superior Eleitoral e se conclua pela cassação dos mandatos, dela e do vice, convocando-se novas eleições, seja porque o Congresso Nacional use o dispositivo constitucional do impedimento em função dos crimes de responsabilidade que a lei especifica. Em ambos os casos, são regras que a Constituição estabelece exatamente para situações como a que estamos vivendo.
Nada de golpe. Golpe é não aplicar a lei quando ela se impõe.
O fato político que lhe retira a legitimidade é a sua impossibilidade de governar. Ninguém vai lhe tirar a legitimidade que o voto lhe deu, a não ser a própria vontade popular.