O crescimento medíocre da economia, a perda de competitividade e a gigante burocracia do Estado estão sufocando a dinâmica do setor privado e a geração de empregos no país. A CNI (Confederação Nacional da Indústria), em entrevista à Agência Estado, informou que já estamos perdendo postos de trabalho.
Dados do Ministério do Trabalho divulgados na última quinta-feira (21/8) indicam que a indústria fechou o mês de julho com saldo negativo de 15.392 vagas. É o quarto mês consecutivo que este setor vital da economia registra demissões líquidas.
O governo Dilma alardeia uma situação de pleno emprego no Brasil. Uma análise mais criteriosa dos números, no entanto, revela que a situação está longe de ser confortável. Muito pelo contrário, confira:
- No país há hoje 62,6 milhões de brasileiros com mais de 14 anos que estão fora do mercado de trabalho. Eles representam 38,5% da população considerada em idade de trabalhar pelo IBGE. O número é muito maior que o de 7,3 milhões de brasileiros oficialmente classificados como desempregados. Mesmo tirando da conta os menores de 18 e os maiores de 60 anos, são 30,4 milhões de pessoas sem trabalho. O que ocorre é que o desemprego real acaba sendo subestimado pelo desalento (pessoas que desistem de procurar trabalho) e pela precariedade (trabalham menos que o equivalente a 40 horas semanais).
- As condições precárias de trabalho desestimulam pessoas no auge da idade produtiva a procurar emprego. No 1º trimestre de 2014, 14,7% da população entre 25 e 39 anos estava fora da força de trabalho. São brasileiros que não procuram emprego, ou seja, não são nem sequer computados como desempregados. O percentual é ainda mais alto no Norte (19,1%) e no Nordeste (17,5%).
- A taxa de desemprego entre jovens brasileiros é alarmante, atingindo padrões de países europeus em crise. No primeiro trimestre de 2014, alcançou 22% na faixa etária entre 14 e 17 anos e 15,7% entre 18 e 24 anos, segundo a Pnad.
- Entre as mulheres, a taxa de desemprego é 50% superior à dos homens: no 1º trimestre deste ano, foi de 8,7%, enquanto a dos homens ficou em 5,9%.
- A informalidade e ilegalidade continuam fortes no mercado de trabalho. Parcela significativa dos trabalhadores não contribui para a Previdência (40%) e não possui carteira assinada (22,3% dos empregados do setor privado no 1º trimestre de 2014).
- Outros levantamentos mais rigorosos que a PME do IBGE apontam taxas de desemprego bem mais próximas dos índices de outros países, como demonstra a tabela abaixo. Para efeito de comparação, no epicentro da crise de 2008, o desemprego dos EUA era de 6,3%. O do Reino Unido era de 6,6%, e o da Alemanha, de 5,2%.
PME – IBGE(Abril/2014)
| Pnad Contínua IBGE(1º tri/2014) | Dieese(Abril/2014) | |
Desemprego | 4,9% | 7,1% | 11,1% |
- No ano passado, foram gerados 1,1 milhão de empregos formais, com queda de 15% sobre 2012. Foi o pior resultado em uma década. A criação de vagas formais piorou ano a ano no governo Dilma, conforme mostra o quadro abaixo. Nos últimos anos, o país especializou-se na criação de vagas de empregos com vencimentos de até dois salários mínimos. Acima desta faixa já foram fechadas 1,22 milhão de vagas nos três primeiros anos do governo Dilma.
Ano | Empregos |
2011 | 1,96 milhão |
2012 | 1,31 milhão |
2013 | 1,11 milhão |
- Os resultados mais recentes de 2014 continuam indicando enfraquecimento do mercado de trabalho: março e abril tiveram a pior geração de vagas formais dos últimos 15 anos. No acumulado do ano até abril, a queda é de 16,6% em relação ao mesmo período de 2013.
- Em julho deste ano, o mercado de trabalho registrou a criação de 11.796 postos, uma queda de 71,5% em relação a julho de 2013, quando foram criadas 41.463 vagas. É o pior resultado para julho desde 1999.
- 12,3% dos ocupados nas seis maiores regiões metropolitanas recebem menos de um salário mínimo. São 2,8 milhões de pessoas. Em Recife, são 25,8% e em Salvador, 23,0%.