
Especialistas nas áreas de petróleo e energia projetam um quadro muito mais otimista tanto para a Petrobras quanto para o Brasil após a aprovação, pelo Senado, do projeto de autoria do senador José Serra (PSDB-SP) que muda as regras de exploração do petróleo do pré-sal, retirando da estatal a obrigação de participar de todos os consórcios de exploração da camada. Na avaliação do professor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg, o novo cenário possibilitará o surgimento de investidores que podem aliviar as contas da empresa.
“A medida aprovada pelo Senado vai na direção correta. Vai permitir que sejam atraídas outras empresas petrolíferas que vão dividir os custos e os riscos com a Petrobras – que estavam todos nas costas da estatal até agora. Com essa abertura, essa situação vai melhorar. É uma medida correta e que deveria ter sido tomada há mais tempo. É boa para a própria Petrobras e boa para o país”, analisou o ex-secretário de Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo.
As expectativas positivas sobre a exploração do pré-sal sob a nova legislação são compartilhadas também por analistas ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo em matéria publicada nesta quinta-feira (25). Para David Zylberstajn, diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o modelo adotado a partir da gestão de Lula, que obrigava a Petrobras a participar com, no mínimo, 30% dos investimentos em todos os consórcios, foi um “erro que paralisou o setor por anos”. Ele apontou, ainda, que a abertura deve gerar mais riquezas para o país.
“O aumento da oferta de petróleo e a busca de alternativas jogaram contra a atratividade do setor petrolífero no mundo inteiro. Aqui, isso é agravado pela dependência da Petrobras. A criação de um direito de preferência é melhor do que como está hoje, mas o ideal seria abrir totalmente. Para o interesse nacional, o melhor é maximizar a exploração da riqueza. Tanto faz para o consumidor se a sonda é privada ou estatal. Para a sociedade, interessa a riqueza”, frisou Zylberstajn.
Na avaliação de Carlos Assis, consultor da Ernst & Young Óleo e Gás, a aprovação do projeto fará com que investidores recuperem a confiança para investir no pré-sal. “As novas regras podem destravar investimentos. A competição é saudável na medida em que há outros players com papel relevante, há outras tecnologias, outros modos de atuação, outros compradores. É um sinal positivo para o investidor, para recuperar a confiança”, ressaltou.
José Goldemberg destacou também que a queda no preço do petróleo no mercado internacional aliada aos altos custos de exploração das camadas do pré-sal foram decisivas para o processo de endividamento enfrentado pela estatal nos últimos anos.
“A exploração nesses campos de trabalho na plataforma continental faz com que o petróleo seja mais caro do que quando ele é explorado em terra seca, como é o caso do Oriente Médio – de modo que o pré-sal parecia, dez anos atrás, uma opção interessante porque o petróleo estava custando mais de cem dólares por barril. Agora, o petróleo está valendo menos de 30 dólares por barril”, analisou. “Por causa dessa regra que foi estabelecida pelo governo, a responsabilidade da Petrobras se tornou muito grande. Acabou ficando um peso muito grande para a Petrobras ser a líder em todos os consórcios que exploravam o petróleo no pré-sal, o que contribuiu para o endividamento terrível que ela está atravessando hoje”, completou o professor.