A deterioração da indústria brasileira fez com que o setor de bens de capital retrocedesse uma década inteira, voltando aos patamares vistos em 2005 e 2006. Somente em dezembro do ano passado, o setor teve um expressivo recuo de 31,9% na comparação com o mesmo mês do ano anterior, de acordo com informações de matéria do jornal O Estado de São Paulo publicada nesta quarta-feira (3).
Na avaliação de Felipe Beraldi, analista de bens de capital da Tendências Consultoria Integrada, apesar de as previsões indicarem recuo em 2015, o mercado não imaginava encontrar uma retração tão grande no setor em apenas um ano. “O resultado de dezembro surpreendeu de forma negativa. Esperávamos uma queda na comparação anual, mas o resultado veio muito pior”, ressaltou. Para ele, a atual situação da indústria de bens e serviços tem a conjuntura econômica negativa como pano de fundo, já que o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter recuado cerca de 4% no ano passado, segundo boa parte dos analistas.
Um exemplo da crise do setor citado pela reportagem do Estadão é a empresa Asvac Bombas, do empresário Cesar Prata, que diminuiu seu número de funcionários de 50 para 14 apenas nos últimos dois anos. Como o principal destino das bombas vendidas pela companhia são navios e plataformas de petróleo, a empresa teve que reduzir investimentos por conta da crise provocada pela Operação Lava Jato e também pela falta de confiança do mercado para investir.
“O volume de investimento vem caindo, e os nossos negócios diminuíram entre 20% e 30% por causa da recessão do País. Essa piora se somou à crise da Lava Jato, que, para nós, começou há dois anos. Já passei por algumas crises. Eu me lembro de algumas similares, como o Plano Collor, que foi grave também. Mas, naquela época, a economia não chegou a parar”, destacou Prata.
Para que o setor – considerado o coração da indústria – retome sua força, é necessário que consumidores e empresários voltem a confiar na economia brasileira, segundo análise de Felipe Beraldi. “Atualmente, há uma paralisia em diversos setores. O mais grave que vivemos é a crise de confiança. Além das expectativas serem ruins, elas não pararam de piorar nos últimos meses”, apontou.