Em entrevista ao jornal O Globo deste sábado (5), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a presidente Dilma Rousseff hoje representa apenas um “fiapo” da base que já teve no passado. O tucano comentou, entre outros assuntos, os efeitos da fraca popularidade da presidente, as consequências da Operação Lava-Jato, o “lulopetismo” e a crise de representatividade de Dilma.
Para Fernando Henrique, o “lulopetismo” é a ideia da hegemonia do partido, de que o partido domina o Estado e o Estado muda a sociedade. Segundo ele, essa é a trajetória que o PT tentou imprimir aos brasileiros. No entanto, o tucano diz que os petistas aceitaram a democracia, mas uma democracia sob hegemonia, não aceitando o outro, só quando o outro se submete. “É uma variante nacional-estatizante da esquerda”, explicou.
Questionado sobre os conceitos de direita e esquerda, tendo em vista que o ministro da Fazenda é o Joaquim Levy, o tucano afirmou ser uma “incoerência completa” ter um ministro da Fazenda que tem uma visão mais liberal da economia.
“A esquerda preconizava o controle coletivo dos meios de produção. Isso sumiu do mapa, ninguém mais propõe. A base real socioeconômica do governo petista é uma relação solidificada entre Estado, fundos de pensão, que representam os funcionários das empresas estatais, e alguns setores privados. E utiliza o Estado para o crescimento da economia. Portanto, o PT não propõe socialismo nenhum”, disse.
Crise de representatividade
Sobre a questão da crise de representatividade, FHC comentou que os governos lulopetistas têm uma base nos estados em que há mais Estado e menos mercado. “Nesses lugares, ricos e pobres votam pelo PT. Mas essa base é eleitoral, a base de sustentação de poder é outra, é o setor empresarial, com os fundos de pensão e a burocracia. Mas essa também o governo deixou de representar na medida em que a economia deu para trás pelo excesso de intervencionismo, por erros. Essa base foi minguando. Ricos e pobres deixaram de apoiar. No momento, Dilma representa um fiapo da base que já teve”, criticou.
Segundo o ex-presidente, a Operação Lava-Jato destruiu em parte essa estrutura de sustentação, já que revelou que o mecanismo de sustentação de poder do PT passou a ser corrupto. “Não é a corrupção tradicional, que é pessoal. É uma corrupção institucionalizada, organizada e que sustenta partidos. No mensalão não chegava a tanto, era para financiar a eleição, mas agora não”, apontou.
Questionado sobre a possibilidade da presidente Dilma não saber sobre o esquema de corrupção no governo federal, FH afirmou ser “muito difícil”. “É muito grande. Eu não posso afirmar porque não tenho informação. Isso não foi feito pela Dilma, ela já encontrou assim. Eu acho até que a Dilma tentou segurar no caso da Petrobras, quando nomeou a Graça (Foster), que demitiu alguns dos que estão implicados hoje. Tentou fazer um governo ético, mas, depois o sistema não permitiu, as forças políticas não permitem mais”, relatou.
Ainda segundo o tucano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um “mito que se quebrou”, junto com o lulopetismo. “Lula cresceu e caiu junto porque o mito era sustentado pelos resultados. Obviamente reconstruir é muito difícil, é um cristal que se quebrou. Embora o sistema tenha se esboroado nas mãos da Dilma, quem sabe ler a história percebe que não foi ela quem construiu esse sistema”, concluiu.