As vítimas da maior tragédia ambiental do país, em Mariana (MG), estão abandonadas à própria sorte. Depois de sobrevoar o local atingido pelos rejeitos de minério da Samarco, sem descer para prestar sua solidariedade à população, a presidente Dilma Rousseff parece ter se esquecido do assunto e agora só pensa em salvar o próprio mandato e em livrar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do risco de prisão diante do avanço das investigações da Lava Jato.
O deputado federal Paulo Abi Ackel (PSDB-MG), integrante da Comissão Externa da Câmara que avalia o caso, afirma que o governo é omisso em relação às vítimas do desastre. O tucano ressalta a diferença de tratamento dispensada às vítimas da tragédia de Mariana e ao ex-presidente Lula. Dilma sequer visitou a população dos distritos atingidos pela lama, após o rompimento da barragem da Samarco, limitando-se apenas a sobrevoar o local e, mesmo assim, sete dias após o incidente. Um postura oposta a oferecida a Lula, que mereceu uma visita em seu apartamento em São Bernardo do Campo no dia seguinte de sua condução coercitiva para depor à Polícia Federal.
Abi Ackel também reclama da falta de vontade por parte do governo de aprovar o marco regulatório da mineração, o que poderia ter evitado o desastre. “Nós já podíamos ter colocados um marco legal da mineração e a Casa Civil e o governo federal não quis. A presidente Dilma foi contra. E nós podíamos ter, portanto, modernizado muito a população no setor. E quem sabe com essa modernização ter evitado a tragédia. Posteriormente a ocorrência da tragédia, o que nós vimos foi um descaso completo do governo federal. A presidente demorou sete dias para visitar a área e até hoje não liberou um centavo, nenhum recurso para através do fundo de catástrofe, é um fundo constitucional, atender as demandas de emergência de Mariana. Uma enorme negligência por parte do governo federal”, lamentou.
A lama de rejeitos arrasou duas comunidades, atingindo pelo menos 128 residências e deixando 19 mortos. O desastre ainda afetou mais 30 cidades. Os impactos ambientais alcançaram toda a bacia do Rio Doce, a quinta maior do país, e destruíram áreas de vegetação nativa. E ainda há lama sendo despejada na região. Parte desse material está de acumulando no fundo do mar, na foz do Rio Doce, provocando mudanças na vida marinha do litoral do Espírito Santo. Não é só água que mudou de cor, mas o fundo do mar também, pois a substância está ficando cada vez mais espessa e prejudicando os peixes. Segundo ecólogos e gestores ambientais, pode levar séculos, para que os prejuízos na natureza sejam revertidos.
“Durante todo esse tempo nós estamos acompanhando e cobrando providências de todos os envolvidos. Energia por parte do Judiciário, maior agilidade, um efetivo comprometimento por parte do governo federal – que nós não temos presenciado, e por parte da empresa envolvida efetivos passos e não apenas discursos”, cobrou o deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG), que também participa da Comissão Externa da Câmara que acompanha os desdobramentos da tragédia em Mariana.