No último dia 15 de março, mais de dois milhões de brasileiros foram às ruas em protesto. Não pude ser um deles: recuperava-me de uma delicada cirurgia cardíaca. Dias antes, exames de rotina haviam apontado a probabilidade iminente de infarto. Foi um choque, pois sentia-me perfeitamente bem. Os médicos foram taxativos: a operação traria riscos, mas não enfrentá-la representaria um perigo ainda maior.
Do leito do hospital, acompanhando as manifestações pela tevê, minha “pequena” provação pessoal levava-me a refletir sobre nosso gigantesco drama nacional: se um processo de impeachment implica riscos para a estabilidade do país, evitá-lo ou posicionar-se contra ele não poderia ser ainda pior?
Pensava nos argumentos do cientista político Carlos Pereira, da FGV, em recente entrevista à jornalista Miriam Leitão, alertando para os “custos” da falta de impeachment. Segundo ele, a ausência de punição para um governo identificado com a corrupção ou com partidos políticos com ela envolvidos alimentaria uma sensação de vale-tudo, um sentimento de “cinismo cívico” devastador para a sociedade e para a economia de um país.
Por outro lado, todos os processos de impeachment levados a cabo no mundo, nas últimas décadas, resultaram na consolidação da democracia e das instituições, na redução da instabilidade econômica e social, e numa recalibragem do jogo político. Enfim, os riscos do impeachment seriam sobrevalorizados, diante dos benefícios que ele poderia gerar.
A aversão ao risco é da natureza humana. É um instinto que muitas vezes nos protege, mas que, outras vezes, simplesmente nos imobiliza. Precisamos, como nação, saber identificar qual é o risco maior, e saber como agir para evitá-lo. A voz das ruas demonstra que não aceita a paralisia.
Meu coração também não a aceita. Ele segue batendo, reformado, renovado, agradecido a todos aqueles que o ajudaram com orações e pensamentos positivos. Em breve, ele estará novamente pulsando em Brasília, reassumindo o enfrentamento a este governo reprovado pela sociedade. E sem temer risco algum.
* Paulo Bauer
Senador (PSDB-SC)