Para tentarmos entender o que pode nos reservar o futuro próximo do trabalho, no momento pós-pandemia, devemos sempre olhar na história da humanidade e compreender alguns movimentos que ocorrem imediatamente após uma guerra, uma revolução ou uma pandemia. A humanidade está sempre em transformação, porém, nestas ocasiões de crise mais aguda, o ser humano se transforma, acelera e busca alternativas para sair da crise – como tem sido à busca de uma vacina neste momento. As transformações que ocorrem durante este processo geram consequências sociais indeléveis e transformadoras.
Tomemos a 1ª Guerra Mundial, numa tentativa de corroborar esta conjectura: enquanto os homens iam ao campo de batalha, as mulheres foram instadas a ocupar postos de trabalho mais qualificados até então masculinos. No Reino Unido, ao final de 1917 verificou-se um aumento de 50% em mulheres em empresas e na França este aumento ficou em torno de 20%, em que pese que isto significasse 36% da população ativa. Ao término da Guerra, houve um apelo que elas retornassem para suas casas para repovoar seus países, porém a sociedade já se transformara, direitos foram adquiridos, como direito ao voto pelas americanas, alemãs e inglesas. Começava aí uma longa jornada onde mulheres trabalhando passou a ser uma via mais natural. Hoje a sociedade discute a igualdade de oportunidades e salários, e não se é “correto” ou não as mulheres trabalharem ou votarem.
Não só mudanças de costumes, mas em tecnologia e produtos também ocorreu grande transformação com a criação e/ou utilização de produtos que passaram a fazer parte de uso contínuo da sociedade, como o material usado para estancar o sangue para uso na guerra (posteriormente utilizado em absorventes femininos), raios-X, quimioterapia e o zíper.
Ora, se uma transformação é inexorável, o que devemos esperar?
Se a analogia é válida – que é nossa hipótese histórica – mudança de comportamento e de tecnologia se avizinham. Trabalho anywhere office, remoto, em casa, em coworking, no cyber café ou na empresa já é uma realidade que tomará cada vez de uma parcela maior do mundo empresarial em atividades onde seja possível.
Adicionalmente uma revolução silenciosa está em curso – que não tem a criação de um produto transformador – porém muitos processos estão sendo aperfeiçoados e otimizados e startups estão achando soluções para problemas resolvidos ora presencialmente. As resistências jurídicas e operacionais caíram por necessidade de sobrevivência das empresas que perceberam que os benefícios superam as dificuldades encontradas.
Educação online, processos online, o mundo virtual ficou mais rico e, ao término da pandemia, algumas coisas voltarão a ser presenciais, mas um legado enorme destas mudanças ficará para uma nova sociedade. As organizações públicas e privadas estão se adaptando rapidamente, porém, como ficam os trabalhadores?
Um grande contingente tem perdido seus empregos e o trabalho deve ser a nova prioridade dos governantes, assim que for equacionada a crise da saúde. Como gerar empregos para um contingente de ex-funcionários analógicos?
“O analfabeto do século 21 não será aquele que não sabe ler e escrever e sim aquele que não sabe aprender, desaprender e reaprender.” Alvin Toffler
Muitos empregos deixarão de existir devido a estas transformações. A volta de uma economia crescente não se traduzirá por uma retomada de empregos de forma elástica. O brasileiro tem um forte tino de sobrevivência e DNA de empreendedor, porém deve ser treinado e ter ferramentas para atuar neste novo mundo para não fazer parte da triste estatística de mortalidade de novas empresas.
É para este cenário que os governantes e os representantes da população do legislativo devem estar preparados para amparar nossa comunidade através de instrumentalização – treinamentos e capacitações – para uma percepção do novo mercado que silenciosamente está despontando no horizonte e se sensibilizando para um papel de protagonismo nesta transformação. Porém, os métodos devem ser revistos. O passado não nos ajudará neste mundo que se avizinha, a não ser pela experiência. Novas formas de se enxergar as dinâmicas de mercado serão necessárias.
Quem tiver esta percepção, tem tudo para ter um futuro brilhante numa trajetória política que de fato contribua para o virtuosismo de nossa sociedade.
Vamos abraçar esta causa?
(*) Engenheiro mecânico, especialista em gestão estratégica, criador do Impact Hub Curitiba