A Voz das Ruas
Por Lucas Costa de Santana*
Durante esse período político turbulento no país, me abstive de fazer postagens diretas a respeito do que penso. Acredito que contribuo muito mais com minhas atitudes no dia a dia do que textões em redes sociais e quem me conhece sabe muito bem minhas convicções políticas. Mas torna-se extremamente difícil não me indignar e não ter desejo de colocar para fora algumas poucas palavras.
No último domingo, milhões de brasileiros foram às ruas manifestar-se. Não contra apenas um governo, não contra uma pessoa, não contra uma figura, não contra uma alegoria, não contra uma ideologia, mas contra uma situação caótica gerada por todos os os anos de desgoverno do nosso país, fato que sempre existiu, mas que ocorre principalmente nos mais recentes.
Acredito que uma atitude no mínimo respeitosa para com esses que foram às ruas, para com outros milhões que estão indignados mas não puderam ir, para com outros fanáticos por uma ideologia mas que sofrem, também, as consequências do desgoverno, para com outros hospitalizados necessitando de recursos inexistentes por conta verbas desviadas, para com desabrigados, para com necessitados seria, no mínimo, dar uma resposta com propostas a o que foi clamado nas ruas.
Não vimos isso, vimos uma luta implacável para se defenderem, para se blindarem, para defenderem seu ícone, para manterem seu Zeus no Olimpo. O que vemos é uma vontade desenfreada de manter essa máquina maléfica de autoalimentação e perpetuação de poder que tanto mazela nosso povo. Vejo isso no dia a dia da minha futura profissão, onde posso falar com um pouco de propriedade.
Diariamente deixamos de fazer o mínimo por falta de recursos. A partir de hoje, mais do que nunca, em cada paciente que eu atender que não tiver recursos para tratar, vou ver um triplex; em cada lágrima de uma mãe derramada num corredor de hospital, verei os olhos de uma jararaca!
*É estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe