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“O café também é nosso”, por Rodrigo de Castro

A honra de sediar, no mês de setembro, a Semana Internacional do Café e de ter sido palco da celebração do cinquentenário da Organização Internacional do Café (OIC) avivou a consciência dos mineiros de que o setor cafeeiro nacional precisa dar novos saltos e abrir novas frentes, agregando valor para conquistar novos mercados, como a China.O nosso café, como commodity, sofrerá sempre as manipulações de preço a que comumente são submetidos os produtos primários.

Escancara essa realidade a constatação de que o Brasil, maior produtor mundial de café em grãos, registrou, nos primeiros sete meses deste ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, um incremento de 44% nas importações do produto torrado e moído, confirmando a tendência que se vem verificando nos últimos anos. Por outro lado, vendemos ao exterior pouco mais que 70% do que vendemos em 2012 e pouco mais que 20% do que vendemos em 2008. Em termos de valor monetário, o café industrializado que sai é comercializado, na média, por algo correspondente a apenas 42% do preço do café que entra no país.

O que fica evidente é que o produto in natura que sai do Brasil volta ao país com um valor agregado que o país ainda não conseguiu incorporar e isso significa que, no negócio do café, a economia brasileira exporta água, nutrientes básicos, impostos, juros de financiamento, burocracia e mão de obra sem qualificação e, por outro lado, importa conhecimento, tecnologia e emprego especializado. Fica claro também que, com tímida evolução na industrialização e processamento, o país vem perdendo, de forma galopante, a briga no próprio mercado interno. O brasileiro está cada vez mais bebendo o café que vem de fora, talvez o mesmo saído daqui para ganhar brilho e sofisticação.

Como afirmei em artigo anterior, os novos saltos do setor cafeeiro estão diretamente relacionados com a capacidade de industrialização e processamento do nosso produto, o que depende de investimentos que, por sua vez, dependem do nível de poupança e capitalização dos empresários do setor. Mas não é o que está acontecendo. A capacidade de investimento do cafeicultor foi e está sendo expressivamente afetada pela crise que, há várias safras, atinge o setor. Se não houver pronta intervenção do governo federal, o produtor está na contingência de continuar entregando o seu produto por preço inferior ao custo dos insumos. E isso significa a precarização do setor cafeeiro e, irremediavelmente, o desestímulo do agricultor. Desta forma, fica impossível conquistar a tão desejada agregação de tecnologia e valor.

Um movimento iniciado em Minas Gerais, tendo à frente o Governador Antonio Anastasia e o secretário de estado de agricultura, pecuária e abastecimento, Elmiro Alves do Nascimento, acompanhados pelas entidades representativas, vem buscando o apoio do governo federal para, entre outras medidas, a implementação de um programa de leilões de opões públicas em volume correspondente a pelo menos 30% da safra, bem como a liberação dos recursos, já disponíveis, do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), e a renegociação das dívidas do setor. A situação econômico-financeira de muitos agricultores é tão séria, especialmente nas culturas de montanhas – onde o processo de mecanização não se mostra viável –, que a única alternativa que vislumbram é o abandono das atividades cafeeiras, o que já se vem verificando. E isso é desolador para a economia de Minas e do Brasil, sobretudo no que diz respeito à preocupação da mão de obra em regiões pobres, sem atividades econômicas alternativas.

A precarização da agricultura cafeeira, que deixa o setor sem condições de investir na busca de tecnologia, melhoria de produtividade e diversificação agregadora, deve-se à indiferença e omissão do governo federal, insensível às necessidades e reclamos da categoria que, sem saída, continua laboriosa no campo, defendendo divisas para o país e esperançosa de que o governo federal tenha a mesma atitude de patriotismo. Por que Dilma não aproveita o “Café com a Presidenta” para discutir esse assunto e anunciar as medidas necessárias para o setor? O reconhecimento do valor cultural do café, a ponto de instituí-lo como programa diário, não pode servir apenas a objetivos de marketing. Vamos ao que interessa ao país, presidente!

Deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB- MG). Artigo publicado no Jornal O Estado de Minas (19.11)

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