Brasília – Ex-secretário nacional de Justiça (2007-2010), Romeu Tuma Junior revela no livro Assassinato de Reputações — Um Crime de Estado, as ordens que recebeu de autoridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva para divulgar os dossiês elaborados por integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) contra os adversários políticos.
Em entrevista à revista Veja no fim de semana, Tuma Junior contou que, por três anos, conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos.
Segundo a reportagem, o ex-secretário disse ter ouvido confidências e teve contato com segredos, como as ações que se destinam à proteção dos amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos. A Secretaria Nacional de Justiça é um posto estratégico no organograma de poder em Brasília.
Os arquivos da secretaria guardam informações confidenciais de outros países, listas de contas bancárias de investigados e documentos protegidos por rigorosos acordos internacionais. Cercado por poderosos interesses, esse universo de informações confere ao seu controlador acesso aos mais restritos gabinetes de ministros e a responsabilidade sobre assuntos da União.
No período de 2007 a 2010, Tuma Junior disse ter testemunhado o funcionamento desse esquema. As revelações de Tuma sobre o lado obscuro do governo estão reunidas no livro, que chega às livrarias nesta semana. Inicialmente, ele idealizou a publicação para desconstruir a campanha de difamação de que o autor foi vítima.
Tuma Junior foi demitido do governo sob a acusação de manter relações com contrabandistas. O livro é escrito em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, professor de duas universidades em São Paulo.
“Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe”, contou o ex-secretário à Veja.
Segundo ele, no pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque sido publicada uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior.
“O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo”, reagiu o ex-secretário.
A reportagem com Tuma Junior na Veja pode ser acessada no site da revista