A Secretária da Igualdade Racial e presidente do Tucanafro Bahia, Luislinda Valois, participou nesta segunda-feira (15/8) do debate “Juventudes, Esporte e Desenvolvimento: Rota para 2030”, promovido no Rio de Janeiro/RJ pela ONU e pela Fundação Oswaldo Cruz para celebrar o Dia Internacional da Juventude (12 de Agosto). O racismo e a injustiça social foram alguns dos principais temas tratados no encontro.
Para Luislinda Valois, além da violência – responsável pela morte de um jovem negro a cada 23 minutos no país – a falta de oportunidades é outro grande obstáculo para os negros no país. “Apenas 11% dos jovens negros estão nas universidades, o mercado de trabalho é seletivo e cruel. Estamos sempre com a vassoura e o pano de chão, mas não queremos somente isso, queremos as canetas para decidirmos o destino do Brasil. Não queremos mais a situação do prato feito, queremos fazer nosso próprio prato”, disse a Secretária da SEPPIR. “Ser negro no Brasil é tarefa extremamente árdua, por isso é importante ampliar o debate e as ações de políticas públicas. E vocês, jovens, precisam ocupar espaços de poder, estudar bastante”, acrescentou Luislinda Valois.
A educação também foi apontada por outros debatedores como ferramenta de mudança e instrumento de libertação. O coordenador-residente do Sistema ONU no Brasil, Wilfried Lemke, destacou o exemplo da Coreia do Sul, que já foi um dos países mais pobres do mundo depois da Segunda Guerra Mundial, e hoje é uma potência econômica graças à educação.
O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou que o processo educativo de jovens só será efetivo com a garantia dos cuidados desde a gestação e da primeira infância e com inclusão social. “Toda a capacidade de maturação neurológica e de processos de socialização se dá durante esse período e, da mesma forma, a capacidade de absorver educação e de interagir como cidadãos não se torna plena sem estrutura social para inserir essas crianças de uma forma inclusiva na sociedade.”
Já o presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), Daniel Souza, defendeu mais participação dos jovens nas tomadas de decisão. “Ao falar de desenvolvimento, precisamos nos perguntar qual o modelo de desenvolvimento que queremos. Não há nenhuma mudança sem consulta popular. Precisamos de desenvolvimento com participação social e justiça socioambiental, afirmou.”
Ao falar sobre o tema original do encontro, “Juventudes, Esporte e Desenvolvimento: Rota para 2030”, o enviado especial do secretário-geral para a Juventude, Ahmad Alhendawi, ressaltou que “os valores e princípios olímpicos do espírito esportivo e o jogo limpo promovem tolerância, entendimento mútuo e paz”. O assessor especial de Ban sobre o Esporte para o Desenvolvimento e a Paz, Wilfried Lemke, explicou que “o esporte é universal, promove inclusão e igualdade e inspira as gerações mais novas de todo o mundo a tomar decisões sustentáveis em suas vidas e projetos”. “Em algumas situações, o esporte oferece aos jovens ambientes seguros, afastados das realidades dolorosas e duras de suas vidas cotidianas, expandindo suas possibilidades de vida para além de comportamentos desviantes”, declarou Lemke.
Juventudes, Esporte e Desenvolvimento: Rota para 2030
O evento reuniu cerca de 200 jovens e lideranças de articulações e redes que trabalham com questões como juventude negra, LGBTI, vivendo com HIV-Aids, com deficiência; comunidades tradicionais, afro-religiosas, indígenas e de refugiados, entre outros. Jovens da comunidade de Manguinhos e outras comunidades cariocas também participaram da discussão.
Segundo a ONU, a roda de conversa teve como objetivo discutir os desafios e oportunidades para as pessoas jovens e seu papel para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que compõem a Agenda para 2030 das Nações Unidas. Segundo o coordenador-residente da ONU no Brasil e representante-residente do PNUD, Niky Fabiancic, “os ODS convocam todas as pessoas para colaborarem na construção de um planeta mais justo, com menos pobreza, com crescimento econômico e sustentabilidade para as próximas gerações. Investimentos certos em áreas como educação, trabalho decente, saúde, paz, governança e participação serão cruciais para que a população jovem alcance o seu pleno potencial e apoie a implementação dessa agenda”.
Os jovens no Brasil e no mundo:
No Brasil, 20% dos jovens de 15 a 29 anos – que representam 16,5% da população, ou 33,5 milhões de indivíduos – não estudam nem trabalham. Desse grupo, 63% são negros e/ou mulheres, segundo dados de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um quinto das mães brasileiras tem menos de 19 anos, e 40% delas abandonam a escola por causa da maternidade. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2014 nasceram 28.244 crianças cujas mães têm entre 10 e 14 anos, e outras 534.364 crianças têm mães com idade entre 15 e 19 anos. Garantir que as pessoas jovens tenham acesso pleno a direitos sexuais e reprodutivos é fundamental para que eles possam introduzir soluções inovadoras nas sociedades e contribuir para a Agenda 2030 das Nações Unidas.
O mundo abriga a maior população de jovens de toda a história – 1,8 bilhão de pessoas têm entre 10 e 24 anos de idade. Desse contingente, 90% vivem em países em desenvolvimento, onde serão necessários mais investimentos para explorar o potencial da juventude. Cerca de 515 milhões de jovens vivem com menos de 2 dólares por dia e, em economias emergentes, 60% ou não possuem emprego formal ou não estão matriculados na escola.
*Com informações da Seppir