Brasília – O combate às desigualdades – raciais, religiosas e de renda – sempre esteve no foco de Luislinda Valois.
Foi com esse objetivo que essa mulher, a primeira juíza negra do país, com uma longa história de vida, marcada pela perseverança, formou-se em Direito, passou no concurso para a magistratura e, em 2011, tornou-se desembargadora no Tribunal de Justiça da Bahia.
A mais nova filiada ao PSDB, cuja ficha foi abonada na manhã desta quinta-feira (3) pelo presidente nacional, senador Aécio Neves, tem como motivação o combate às injustiças.
Tudo isso, resultado de sua história pessoal.
Luislinda se define como “preta, pobre e periférica”, conhecedora das necessidades da população excluída.
Além da causa negra, a desembargadora milita também pelos direitos dos homossexuais, das religiões de matriz afro e das vítimas do tráfico de pessoas. E, recentemente, na defesa da população albina.
Uma batalha entre muitas batalhas travadas pela desembargadora mostra seu empenho para lutar pelo que acredita.
Ela era juíza do tribunal estadual e vivia a expectativa da promoção para desembargadora.
“Era a primeira da lista no critério de ambiguidade. Mas eles [os outros juízes] não marcavam uma sessão para analisar o caso. Eu via o tempo passar e nada acontecia. Então, entrei com um procedimento no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a sessão sobre minha promoção ficou marcada para 14 de dezembro de 2011”, recorda.
“Mas nesse dia a sessão foi encerrada sem a análise do meu caso. Meu advogado precisou entrar então com outra ação no CNJ. O caso acabou analisado somente no dia 19 de dezembro. Em 20 de dezembro de 2011 tomei posse como desembargadora”, explicou.
Iniciativas – O posto mais alto da carreira jurídica estadual coroou uma trajetória que se iniciou, na Bahia, em 1984, quando Luislinda tomou posse como juíza.
Entre as iniciativas inovadoras implementadas, um ônibus itinerante que aproximava o Judiciário da população que vivia em bairros afastados, seguida da instalação de cortes em regiões marcadas pela violência contra a mulher.
No Paraná, ela atuou como procuradora federal e também desenvolveu projetos sociais. Contribuição reconhecida por meio do prêmio Pinhão de Ouro, a maior honraria entregue pelo estado.
Política – A filiação ao PSDB é a primeira ligação com um partido político de Luislinda Valois em seus 72 anos de vida.
A escolha da legenda, diz, teve como base a trajetória do partido na promoção do desenvolvimento humano.
O presidente do Tucanafro, Juvenal Araújo, responsável pelo convite, define Fernando Henrique Cardoso como o presidente da República que mais fez pela população negra.
Para a desembargadora, os governos do PT – tanto o federal quanto o da Bahia, com Jacques Wagner – pecam principalmente na ausência de políticas públicas consistentes para a população mais excluída.
E destacou: “Não vejo, no contexto atual, soluções para a desigualdade. A população necessita de políticas públicas consistentes, não só de Bolsa Família. Temos que cuidar das famílias, dando oportunidade de educação continuada, contemplando também a inclusão digital.”
Para essa mulher, é preciso se investir em educação e saúde: “O resto deriva disso. E é por essas causas que luto e lutarei ainda mais.”