Em entrevista ao “Programa do Jô”, que foi ao ar nesta quinta-feira, a secretária especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça e Cidadania e Presidente do Tucanafro Bahia, Luislinda Valois, falou da dificuldade de ser negra no Brasil, contando sua trajetória de lutas e conquistas.
Ela relatou uma inspiradora história de preconceito que sofreu por um professor enquanto tinha 9 anos de idade. “Sou filha de uma lavadeira e de um motorneiro de bonde (que se equipara hoje ao motorista de ônibus), mas meus pais sempre priorizaram a educação. Eu estudei em um colégio chamado Duque de Caxias, no bairro mais pobre e negro de Salvador. Um certo dia, um determinado professor me disse ‘olha, se eu pedi este material e você trouxe outro, então fale para seus pais que é para você parar de estudar e fazer feijoada na casa da branca’. Mas, como eu nasci ousada, eu falei com ele ‘professor, eu não vou fazer feijoada na casa da branca, eu vou ser juíza e volto aqui para lhe prender”, contou a desembargadora aposentada.
A primeira juíza negra do país também falou sobre a falta de negros no Poder Judiciário. “Eu sou à favor das cotas e agora, inclusive, estou solicitando as cotas para todos tribunais. Nós temos cota de um negro em cada espaço. É um negro promotor. É um negro desembargador. O Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Tribunal Superior do Trabalho também não conta com negros. Mas, dizem que somos 52% desta população, porém não é somente isso. Cotas e honestidade neste país, eu não abro mão”, destaca Luislinda.
Ao encerrar sua participação no programa e ao se despedir de Jô Soares, a secretária Luislinda Valois ficou emocionada e aproveitou o espaço para relatar a dificuldade para chegar ao cargo de desembargadora. “Para chegar a desembargadora, eu tive que entrar com uma ação contra o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, porque senão eu não seria desembargadora. Tive ganho de causa a primeira vez, mas a presidente do tribunal não obedeceu. Eu entrei com uma medida mais dura. No dia que o ministro disse ‘ela vai apreciar o seu processo’, eu voei nele e falei ‘ministro, ela não vai avaliar o processo’, ele disse ‘ela vai, pois irei mandar dois juízes com atribuição para tanto, se ela não apreciar, eles vão julgar’. E, pasmem, o Estado da Bahia ainda entrou com uma mandado de segurança para que eu não tomasse posse. É duro. É difícil ser negro neste país. Quem quiser saber o que é ser negro, fique negro por apenas 24 horas”, concluiu a primeira juíza negra da história do Brasil.
A entrevista com a secretária especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luislinda Valois, para Jô Soares durou aproximadamente 18 minutos e irá ao ar, novamente, no dia 26, no canal GNT.