
Leia o novo artigo de Juvenal Araújo. Reprodução.
Quando formos falar de racismo, temos que ter algo bem claro em mente: não se trata de um problema simples, de algo isolado, de casos específicos de ofensas com famosos negros que vemos repercutir na televisão. É um problema estrutural e institucionalizado e que permeia todas as áreas da vida, como aponta a própria Organização das Nações Unidas, com uma precisão invejável.
Mais da metade da população brasileira é negra, mas, incrivelmente, ainda somos vistos como minoria. Mal estamos na política, nos cargos de alto escalão das multinacionais, temos os piores salários e ainda somos as maiores vítimas de violência.
Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada pelo IBGE, trabalhadores negros ganharam em média 59,2% do rendimento dos brancos em 2015.
Em 2004, 73,2% entre os 10% mais pobres eram negros, patamar que aumentou para 76% em 2014. Esse número indica que três em cada quatro pessoas que estão na parcela dos 10% mais pobres do país são negras. A economia cresceu durante este período, com exceção nos anos do desastroso governo Dilma, mas isso não se traduziu em mais igualdade.
Pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela que um trabalhador negro ganha em média 36,11% menos que um trabalhador não negro.
Já pesquisa divulgada pelo Ministério do Trabalho mostra que para cada 100 reais ganhos por trabalhadores brancos com ensino superior, um negro graduado ganha 67,58 reais. A média de salário entre negros formados é de R$ 3.777,39 contra R$ 5589,25 de brancos, quantia 47% maior.
O negro não é menos inteligente, muito menos não se dedica como os brancos, mas ainda paga o preço pela escravidão que continua com fortes resquícios. Ao ir em uma entrevista de emprego, se não tiver um diferencial a mais, já está atrás dos demais concorrentes.
O negro não tem padrinhos. É ele por si só, na raça, com muita luta, para tentar igualar as forças.
Nós não queremos privilégios, queremos as mesmas oportunidades, é pedir demais? É sonhar demais pedir que o Brasil valorize seu próprio povo, sua própria origem?
É muito chato e desgastante ter que cobrar o óbvio, ano após ano. É um algo como, por exemplo, todo dia um agente de trânsito ter cobrar que os carros parassem com o sinal vermelho, e seguissem em frente com o sinal verde. Eles não precisam fazer isso, porque os motoristas já sabem como fazer.
Há de se chegar o dia que todos brasileiros também saberão que somos todos iguais, e agirão em conformidade com esta premissa. Enquanto este dia não chega, continuaremos sonhando, agindo e trabalhando em nome desta nossa nobre missão.
Juvenal Araújo, Presidente do Tucanafro Brasil.
















