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“Que o legado das olimpíadas no Brasil seja a inclusão social”, por Juvenal Araújo

9 de agosto de 2016
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Após conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016, a judoca Rafaela Silva fez um desabafo ao lembrar os ataques racistas que sofreu nas redes sociais após ser desclassificada na Olimpíadas de Londres em 2012: “O macaco que tinha que estar na jaula em Londres, hoje é campeão olímpico em casa. Hoje eu não sou a vergonha para a minha família”, afirmou a judoca em entrevista à TV Globo.

Recordando o ocorrido, Rafaela enfrentava a húngara Hedvig Karakas e tentou golpe que lhe rendeu um Wazari, mas após verificação dos juízes, foi eliminada acusada de golpe ilegal. Não entrarei no mérito da questão que levou a desclassificação de Rafaela nos Jogos de Londres, porém é assustador como no Brasil errar parece não ser coisa de humanos e se o erro vier de uma mulher negra as ofensas triplicam. Mas, desta vez, Rafaela não deixou barato e aplicou um Ippon no preconceito, com direito a primeira medalha de ouro do Brasil nas Olimpíadas 2016.

Outro momento marcante até agora nas Olimpíadas 2016 foi o dueto formado pelas rappers Karol Conká e Mc Soffia, de apenas 12 anos, durante a abertura dos Jogos. As cantoras são conhecidas por expor a realidade das mulheres negras no Brasil, enfrentado tanto o racismo quanto o machismo. Já imaginou o peso para uma criança negra ao ver Mc Soffia e Karol Conká cantando nessa abertura?

Mas, não é de hoje que as Olimpíadas desempenham papel importante no combate ao racismo. Em 1936, foi realizada em Berlim, com plenos poderes de Adolf Hitler. Mesmo sendo contra o evento esportivo na Alemanha, Hitler acabou convencido a realizar o evento para fazer propaganda do nazismo e afirmar a supremacia da raça ariana. Mas o discurso racista do ditador acabou desmentido pelo desempenho de um atleta negro americano: Jesse Owens, ganhador de quatro medalhas de ouro naqueles jogos.

As Olimpíadas de 1968, realizadas no México, chamaram mais a atenção do mundo pelo protesto de dois atletas negros contra a segregação racial em seu país do que pelo número de medalhas conquistas pelos Estados Unidos.

Foi quando Tommie Smith, ganhador da medalha de ouro, e John Carlos, que recebeu a medalha de bronze, ambos nos 200 metros rasos, subiram ao pódio e fizeram o gesto característico dos Panteras Negras com os braços levantados e os punhos fechados, permanecendo com as cabeças inclinadas para o chão enquanto tocava o hino nacional dos EUA.

Só havia – e ainda há – um problema: o Comitê Olímpico Internacional proíbe que atletas usem ou façam símbolos que tenha referência política. Sendo assim, devido ao ato, os heróis norte-americanos foram expulsos dos jogos e da Vila Olímpica. A imagem dos atletas no pódio é uma das cenas mais emocionante de todas as Olimpíadas, e com o tempo se transformaria em um sinal de resistência e afirmativa dos movimentos que lutam por igualdade racial em todo o mundo.

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 estão dando um grande exemplo de cidadania para os milhares de jovens em situação de vulnerabilidade social. Que eles possam ver, a partir do evento, um novo horizonte de oportunidades por meio do esporte. Neste sentido, acredito que os Jogos vão além dos valores olímpicos como amizade, respeito e solidariedade, a inclusão social deverá a nossa principal medalha durante os Jogos Olímpicos Rio 2016.

Por Juvenal Araújo, presidente Tucanafro Brasil

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