Há uma dificuldade muito grande em manter a cultura afrodescendente preservada em nosso país. A educação, que naturalmente é a forma mais eficaz para que seja formada uma consciência cidadã, está longe de estar no nível de qualidade desejado.
Relacionando à cultura africana, sabemos da Lei 10.639, que garante o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas públicas e particulares do ensino fundamental até o ensino médio. No papel, tudo certo. A aplicabilidade da legislação que é a parte mais complicada.
Os professores não recebem a qualificação necessária para garantir a aprendizagem, e o conteúdo só é passado aos estudantes a partir da 5º série. Então, o que acontece? Vemos, a cada dia, o enfraquecimento da cultura que o negro realmente faz parte.
É essencial que respeitemos as nossas origens para que toda a diversidade seja mantida. As diferenças fazem parte da riqueza de nossa humanidade e não podemos deixar que elas desapareçam. Afinal, mantendo a nossa tradição, valorizamos e provamos que somos iguais a todos.
Recentemente, tenho me reunido com integrantes de grupos de congados que tem me comovido ainda mais por essa causa. O congado é uma das maiores expressões da cultura afrodescendente, entretanto, congadeiros passam por imensas dificuldades para manter a tradição. Reclamam da falta de conhecimento da população em geral sobre a sua cultura e da carência de recursos e suporte para realização dos eventos.
Realmente quase ninguém sabe o significado. O congado é uma festa com mais de 300 anos de história em que são festejados os santos São Benedito, Santa Efigênia, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora Aparecida. Um festejo popular que mescla elementos religiosos católicos com um tipo de dança dramática, com passos e cantos, em que a música é o fundo musical da celebração.
Durante a época da escravidão, o congado foi uma fonte de fé e esperança para o povo negro. Podemos citar o nome de Chico Rei que, segundo a lenda, foi um escravo, antes chamado Francisco.
Chico Rei era imperador do Congo e veio para Minas Gerais com mais de 400 negros escravos. Na viagem sofrida, Francisco perdeu a mulher e os seus filhos, restando apenas um. Chico Rei instalou-se em Vila Rica, trabalhou nas minas e somando o trabalho de domingos e dias santos – escondendo pó de ouro nos cabelos – conseguiu realizar a economia necessária para comprar a sua libertação e a do seu filho.
O seu prestígio foi crescendo e conseguiu organizar a irmandade do Rosário e Santa Efigênia, construindo a igreja do alto da Santa Cruz. A sua lenda revela que a origem das festas de congado está ligada à igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Chico ficou marcado como o líder dos congados, que são, tradicionalmente, mais representativos em Minas Gerais por causa dele.
A escravidão já não mais existe, mas as dificuldades persistem. Esgotamento parece ser a palavra chave para definir a situação dos congadeiros atualmente. Se dizem cansados de viver no anonimato e esperam por mais incentivo para que a cultura permaneça viva.
Precisamos todos buscar a valorização dessa cultura. O congado é um símbolo da resistência negra e deve continuar vivo para mostrar as próximas gerações a essência desse povo.
Da-lhe Chico Rei! Que o Congado permaneça vivo!
Juvenal Araújo
Presidente do Secretariado Nacional da Militância Negra do PSDB – Tucanafro Brasil