
Juvenal Araújo crê que melhores políticas públicas podem mudar realidade do jovem no Brasil.
Dois dos cada três jovens infratores vêm de famílias que não tem o pai dentro de casa, mostra levantamento inédito feito pelo Ministério Público de São Paulo, que levou em conta 1.500 jovens entre 12 e 18 anos que cometeram delitos na cidade de São Paulo entre 2014 e 2015.
A partir disso, podemos lembrar de várias histórias de jovens que perderam seus sonhos, entregaram suas vidas ao crime, e perderam o senso de humanidade, o que aumenta o nosso nível de compaixão. Cobramos sempre que a lei seja cumprida, que os criminosos paguem pelos seus crimes, mas, antes de tudo, devemos clamar para que estes jovens tenham um outro destino.
Segundo especialistas, o adolescente tende a entrar para o crime quando começa, ainda criança, a perder vínculos positivos e passa a sofrer privação emocional. Nos Estados Unidos, um programa em que um padrinho acompanha os menores infratores, levando-a para casa, arrumando uma atividade ou emprego, tem obtido resultados favoráveis. É uma forma de estabelecer um vínculo afetivo.
E qual o destino de um jovem que é deixado pelo pai? Que deixa de ter o amor de quem deveria ser sua maior referência? O que o Estado faz por este jovem? Este menor, onde quer que ele esteja, na maior parte do Brasil, não vai ter uma escola boa para ir, um esporte para praticar, nenhuma atividade cultural para se despertar para um outro universo de oportunidades.
A criminalidade foi aumentando, especialmente entre os mais pobres (que em sua maioria são negros), à medida que tivemos um governo federal nada preocupado com a questão da segurança pública – porque sempre se isentou desta responsabilidade – e que concentrava a cada ano mais e mais recursos em suas mãos, enquanto os gestores dos Estados e municípios passavam cada vez mais aperto financeiro.
Ainda segundo o estudo, 37% dos pais entrevistados têm parentes com antecedentes criminais, o que indica uma influência negativa dentro da própria casa. Os estudos mostram que apenas 57% dos adolescentes infratores estão na escola, o que não significa de fato que eles realmente estudam.
É momento de sonharmos com um outro destino para esses jovens. O Brasil sediará as Olimpíadas em 2016, o maior evento esportivo do mundo, mas ainda hoje o jovem da periferia não tem acesso à prática de esporte profissional. O futebol, o vôlei, a natação, o atletismo, ou algum outro esporte, eu garanto, despertará a atenção de cada um destes adolescentes abrindo os olhos deles a uma nova alternativa de vida.
Utilizo o esporte como exemplo porque é algo fenomenal e mágico que muda a vida de pessoas, porque o negro, o branco, o pobre, o rico, ali, são iguais, e podem alcançar resultados fantásticos. Se não, o mínimo o suficiente para deixá-lo livre das drogas e do crime.
O mesmo vale para o teatro, a dança, a música, qualquer tipo de arte, porque há um horizonte diferente, e nossa realidade pode ser muito melhor do que é, com melhores políticas públicas e maior engajamento de empresários e mídia a favor da igualdade de oportunidades. Precisamos vislumbrar um novo horizonte para os jovens no Brasil, e isso é absolutamente possível!