“O que sempre fez do estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso”, Hoelderlin
Em seu livro “O Século Esquisito”, o saudoso economista Roberto Campos relata que em meados da década de 1970, o Instituto de Integração Iberoamericana publicara um artigo sobre os “dez mandamentos capazes de destruir a economia de um país”. São eles:
1 – Fomentar o conflito de classes
2 – Criticar o sistema, preferindo-se sua destruição ao seu melhoramento
3 – Estatismo e subsídios
4 – Gastar mais do que arrecada
5 – Dilapidação de empréstimos
6 – Coletivização e invasão de terras
7 – Desanimar os produtores
8 – Produzir a inflação
9 – Controle preços
10 – Inculpar os imperialismos
Cerca de quarenta anos passados da publicação, dificilmente alguém encontrará algum argumento capaz de excetuar um desses mandamentos que não esteja sendo seguido à risca pelo atual governo brasileiro. Ressalte-se que a tarefa de arruinar a economia brasileira vem desde o governo Lula, embora esta percepção tenha ficado encoberta pelos efeitos de transbordamentos do pujante crescimento da economia mundial do período 2001-2007, o maior e mais longo de toda a história.
Agora que os ventos mudaram e a maré não está prá peixe, surgem os efeitos nos indicadores econômicos: balança comercial deficitária; elevação dos juros; aumentos nos combustíveis e energia; inflação em alta; crescimento do produto anual a quase zero; níveis alarmantes de corrupção; perda de valor das empresas públicas e por aí vai…
Como Milton Friedman (1912-2006), Nobel de economia de 1976, já alertava que “não existe almoço grátis”, os indicadores sociais não poderiam apresentar situação diferente.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que no período de 2009-2013 a polícia brasileira matou 11.197 pessoas, superando, em apenas cinco anos, o que a polícia dos EUA matou ao longo de 30 anos (11.090). Mesmo com esta matança, a população carcerária no Brasil não para de crescer.
Outra situação constrangedora é o aumento da miséria de 2012 para 2013 em 3,68% (índice 4 vezes superior ao aumento do PIB de 2012), apurado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, contrariando o discurso sobre miseriologia da Presidente Dilma e o seu programa Brasil Sem Miséria, que define uma pessoa miserável numa incrível linha de 77 reais mensais. Com extraordinário irrealismo, conforme o mesmo programa, acima desse valor, o indivíduo já se livra da miséria.
Há no entanto, dois indicadores econômicos que sofrem clara manipulação governamental: o da inflação e o do desemprego. Considerando que a inflação e o desemprego são crimes contra a economia popular, o aparato governamental então usa as estatísticas como apoio e não para iluminar a real situação.
Não é necessário frequentar todos os dias o supermercado para saber que a inflação já ultrapassou em muito à casa dos 6,75% divulgados pelo governo, que chegou a sugerir a substituição da carne por ovos como uma das formas de fazer o nível de preços cair. Nessa linha, vai precisar encontrar muitos substitutos para conter a acelerada alta de preços dos demais bens e serviços.
Quanto ao nível de emprego, é inacreditável que num país em que quase 25% da população receba a pensão estatal do bolsa família e que o crescimento do produto projetado para 2014 seja quase zero, o governo tenha a audácia de fazer contorcionismo metodológico para divulgar um nível de desemprego em cerca de 5%. Esse índice é pleno emprego em economias desenvolvidas.
Ainda sobre o crescimento do Produto Interno Bruto, somados os percentuais de 2012 e 2013, de 0,9% e 2,3% respectivamente, com o estimado de 0,2% para 2014, o Brasil não conseguirá atingir 3,5% de crescimento num período de três anos. Diga-se de passagem, que a maior parte deste baixíssimo crescimento é puxado pelo agronegócio, composto por setores pouco intensivos em mão-de-obra.
Ressuscitado, John Maynard Keynes precisaria rever sua Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda aplicada ao Brasil, dado que a política de expansão monetária e afrouxamento fiscal já foi há muito para o brejo.
Com esses ingredientes econômicos e sociais, e com os próximos reajustamentos de preços que estão por vir, sobretudo de energia e combustíveis, o que puxará, inevitavelmente, a alavanca dos demais preços, e estando o governo a obedecer fielmente o cumprimento dos dez mandamentos, não será surpresa a volta em breve do “gatilho salarial” ou algo similar da velha ilusão monetária da ‘década perdida’ de 1980.
Francisco Nazareno é diretor do ITV/AC _ Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política e de estudos e pesquisas do PSDB.