Ex-ministros de Dilma descartam cargos no PT após escândalos de corrupção no partido
“É uma demonstração clara do desgaste, da desmoralização que o partido vem passando”, disse Vitor Lippi
Brasília (DF) – Ao término da chamada “quarentena”, período de seis meses após o impeachment de Dilma Rousseff em que os ministros da ex-presidente não puderam exercer novas funções, aliados da petista começam a voltar ao trabalho, mas sem perspectivas de retorno à vida pública, ao menos a curto prazo. A única certeza que têm é que, apesar de serem nomes tradicionais do partido, não querem compor a direção nacional do PT, associando-se à sigla que se viu mergulhada em escândalos de corrupção e no fracasso nas eleições municipais. É uma clara sinalização de que nem os “caciques” do partido de Dilma e do ex-presidente Lula querem dar visibilidade à sigla.
Um dos maiores exemplos é o ex-ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Convidado pelo ex-presidente Lula para assumir a presidência do PT, ele recusou a oferta, também descartando a possibilidade de se tornar secretário de Governo da Bahia, a pedido do governador Rui Costa (PT). Seguindo o exemplo de Dilma Rousseff, que após o impeachment optou por um cargo de menor visibilidade, o de presidente do conselho da Fundação Perseu Abramo, Wagner assumirá a Fundação Luís Eduardo Magalhães, instituição destinada a fomentar políticas públicas.
Ex-ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini também assegurou que não pretende voltar a dirigir o PT. Funcionário concursado do Banco do Brasil, o petista se reapresentou ao trabalho e disse, em referência à crise interna enfrentada pelo partido, que “o momento é de coesionar o PT, não de ficar se engalfinhando”.
Para o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP), a recusa de grandes lideranças do PT em ocupar cargos na direção do partido é uma clara demonstração do desgaste e desmoralização a que a legenda foi submetida pelos sucessivos escândalos de corrupção.
“Sem dúvida, isso é mais uma demonstração clara do desgaste, da desmoralização, do descrédito que o partido vem passando. Ele foi execrado nas urnas nas últimas eleições. As urnas mostraram a decadência do PT, praticamente uma desidratação aqui no país. O partido está tão desmotivado, desacreditado, que as próprias grandes lideranças não querem compor a direção. O PT está absolutamente esfacelado, e esse desgaste é tão grande que não se dá só nas urnas, mas junto à opinião pública”, disse.
“A grande maioria da população brasileira vê hoje o PT como sinônimo de um partido que trouxe desemprego, empobrecimento da população, trouxe de volta a inflação, um desarranjo na economia, trouxe a recessão de volta ao Brasil. É realmente lamentável que o partido tenha dado uma contribuição tão negativa ao país. Esse é o resultado, é a realidade do partido atualmente”, acrescentou o tucano.
Fundo do poço
Vitor Lippi destacou que não vê como o PT pode tentar se salvar e ressurgir das cinzas, já que o partido ainda não chegou “ao fundo do poço”.
“Nós sabemos que a Lava Jato deve ainda trazer informações importantes sobre essa corrupção institucionalizada no país. Deve haver um resgate, deverão ocorrer novas prisões, que cheguem aos ex-ministros do Partido dos Trabalhadores, e com o risco de chegar até ao ex-presidente Lula. A expectativa é que o partido afunde ainda mais. Eles têm que repensar muito as suas lideranças e que futuro pretendem ter, já que o descrédito é total. É bem possível que haja um desgaste gradativo ainda maior nos próximos meses”, completou o parlamentar.
Quarentena
Quase metade da equipe de governo da ex-presidente Dilma, segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (14) pelo jornal O Estado de S. Paulo, cumpriu a chamada “quarentena”. Durante o período, previsto na lei para evitar conflitos de interesse de quem sai de um cargo público para exercer funções na iniciativa privada, os ex-ministros receberam um salário equivalente ao do cargo ocupado – R$ 30,9 mil –, mesmo sem trabalhar.
Entre eles estavam ainda Aloizio Mercadante, ex-titular da pasta de Educação e da Casa Civil; José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União; e Aldo Rebelo, ex-ministro do Esporte filiado ao PCdoB.
Leia AQUI a íntegra da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.