Nos três últimos artigos publicados neste espaço, tratei da questão energética. No primeiro, “Um Brinde aos Marajoaras”, festejei a conclusão da 1ª etapa do Linhão do Marajó e a fabricação do cabo subaquático, que será levado ao fundo da baia do Marajó até meados de março, levando energia da Vila do Conde a Ponta de Pedras. No segundo, disse do porque “Valeu à Pena brigar por Belo Monte”, tal os benefícios que a região do seu entorno está ganhando. Em “OsTrigêmeos e as enchentes”, mostro que as hidrelétricas, quando bem pensadas, além de gerar eletricidade e controlar enchentes, podem financiar ações de mitigação dos impactos que causam na região do seu entorno. Neste artigo, pretendia tratar de outro assunto. Contudo, o apagão de energia que ocorreu na última terça-feira, 4 de fevereiro, atingindo estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, inclusive o Distrito Federal, me obrigou a voltar ao tema, até porque este foi é o 181º apagão, entre grandes e pequenos, que ocorre no Brasil no governo Dilma.
É evidente que blecautes de energia são comuns em qualquer parte do mundo. Todavia, não há como negar que os apagões de energia, no Brasil, tornaram-se recorrentes nos últimos três anos. E, como disse a própria presidente Dilma, “é para dar gargalhada se vierem com a justificativa de que a causa foi uma descarga elétrica da atmosfera”. E como a presidente é ex-ministra das Minas e Energia, sabe que as linhas de transmissão de energia elétrica são dotadas de cabos para-raios. Portanto, a razão dos apagões de energia é outra.
Na verdade, o que está acontecendo é falta de energia no sistema, porque as hidrelétricas do Sul e Sudeste estão funcionando à meia carga devido a falta d’água em seus reservatórios, em face da pouca ocorrência de chuvas nas nascentes dos rios. Esta realidade forçou o acionamento de todas as termoelétricas disponíveis, para garantir o fornecimento de energia elétrica. Mas, com o aumento do calor no Sul e Sudeste as pessoas passam a usar mais e mais aparelhos de ar-condicionado, ventiladores, etc, aumentando, assim, o consumo de energia, o que levou o sistema ao limite da sua capacidade, obrigando o Operador Nacional do Sistema a manejar grandes pacotes de energia do Norte para o Sul e Sudeste, através da chamada linha Norte-Sul, que leva a energia de Tucuruí para o Sistema Furnas, próximo de Brasília.
Como se vê, quem estava garantindo a energia naquela tarde de 4 de fevereiro era Tucuruí. E bastou um curto-circuito em duas, das três linhas do Sistema de Transmissão Norte-Sul, para 6 milhões de pessoas ficaram sem energia em 13 estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, inclusive Brasília. E agora?!… Como estão os paulistas e cariocas? Será que os artistas da Globo ainda farão campanhas contra Belo Monte e outras hidrelétricas na Amazônia?
O que precisa ficar bem claro, com este ultimo apagão, é que se não forem construídas novas hidrelétricas, com reservatório, o Brasil caminha para um racionamento de energia.
Hoje o Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de habitantes e sonha com um crescimento, anual, da ordem de 4% do PIB. Isso requer, a cada ano, uma injeção de 4.000 Mw de energia nova no sistema. E isso significa, por exemplo, que o complexo hidrelétrico do Tapajós, com potência de 10.600 Mw, já deveria estar sendo construída. Mas até agora não foram feitas, sequer, as audiências públicas. E o mesmo acontece com a hidrelétrica de Marabá,de 2.000 Mw.
Essa é a encruzilhada. E o Brasil precisa decidir, já, se quer ou não crescer. Se deseja crescer, precisa construir hidrelétricas e linhas de transmissão. E se não quer, que as pessoas comprem logo candeeiros e lampiões para conviver com os apagões sem reclamar.
O que não pode, é continuar com esse nhém-nhém-nhém para se construir hidrelétrica ou linha de transmissão, como se isso fosse o fim do mundo. No Nordeste, os aero-geradores estão prontos para gerar eletricidade. Mas, as linhas de transmissão não estão prontas, porque a cada torre ou poste a ser fixado precisa de um arqueólogo, para dizer se há algum osso pré-histórico naquele buraco. Pode?!… E depois, quando ocorre um apagão a grita é geral, até dos ambientalistas e arqueólogos.