Falar do jornal Diário do Pará é falar da manipulação da mídia pela família Barbalho, dona do grupo RBA. Separar o joio do trigo é importante, não confundam os profissionais da comunicação (redação), com os desmandos editoriais da publicação, substitua liberdade de imprensa por imposição de empresa.
Já não bastasse a famosa farsa de uma foto de um hospital de Honduras, publicada como se fosse da Santa Casa de Belém em novembro do ano passado, que para desgosto dos bons jornalistas paraenses Luciano Amorim descreveu em seu blog: “Pra ver como é a imprensa no jornalismo impresso do Pará, que já acompanhei várias vezes no blog Midia Mundo, por Eduardo Tessler”!
Agora o tablóide resolveu manipular dados do IBGE com relação à saúde. A pesquisa do IBGE toma por base a previsão orçamentária e não o orçamento realizado, portanto, não é real. Outra distorção da pesquisa é calcular a participação dos gastos na saúde em relação à receita bruta dos Estados, desconsiderando que nela inclui-se, por exemplo, a parcela de ICMS que é arrecadada pelo Estado, mas que efetivamente pertence aos municípios. Ou seja, a pesquisa do IBGE trabalha com valores sobre os quais o Estado efetivamente não tem gerência.
Malandramente, o jornal dos Barbalho se utiliza destas informações para estampar a capa de sua publicação, no último dia 10 da seguinte forma:
Contrariamente , o Pará é um dos estados que mais investem em saúde, conforme já citamos na matéria “Pará é um recordistas brasileiros no investimento em saúde”.
Conforme informação divulgada pela Secom, com dados do IDESP, “o Pará nos últimos anos tem não apenas cumprido e atingido o limite constitucional de 12%. Mais que isso, tem superado este índice. Em 2012, último ano em que está disponível a consolidação das despesas realizadas pelos Estados pela STN, o Pará aplicou 13,3% em saúde, ocupando a 11ª posição no ranking nacional. Já em 2013, ainda que não se tenha informação disponível consolidada para todos os Estados, o Pará continua aplicando acima do limite constitucional, inclusive com percentual superior a 2012, já que alcançou no ultimo ano 13,5%. Tal informação está disponível no Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (siops.datasus.gov.br), mantido pelo próprio Ministério da Saúde e pode ser consultado por qualquer cidadão.
Publicada no Blog do Sakamoto, entrevista respondida de forma coletiva por jornalistas do Diário do Pará que cruzaram os braços no final de 2013, foi respondida a pergunta “O que acontece quando um político possui uma concessão de televisão?”
Grevistas: Ele comunica segundo os seus interesses. E no Brasil, infelizmente, temos oligopólios à frente dos principais grupos de comunicação. Não existe liberdade de imprensa, mas de empresa, o que impõe uma espécie de escravidão intelectual quando nos obriga a ferir o que aprendemos quando passamos pela universidade. Pautas de interesse exclusivo do patrão e seu círculo de convivência, que caem em nossas mãos como matérias altamente recomendadas. É por isso que enfrentar um grupo tão poderoso quanto a família Barbalho requer coragem. O medo acaba confinando os jornalistas dentro das redações. Isso precisa mudar e estamos fazendo a nossa parte. É bacana destacar também a importância do midialivrismo para fazer frente a essa realidade que toma conta do país há décadas.
Em seu “Jornal Pessoal”, Lucio Flavio Pinto, igualmente crítico severo de nosso governo, em Carta Aberta ao senador Jader Barbalho (março, primeira quinzena), destaca a quantidade de fotos de cadáveres que a publicação divulga diariamente, afirmando que “o jornal é quase uma extensão do IML ou de um açougue”, tudo em função de um sensacionalismo barato que não dignifica o cidadão e contribui para a deformação da opinião pública, o famoso “pão e circo” que é dado ao povo pela publicação. Diz: “o público pode ser manipulado e enganado, mas não para todo o sempre“.
Cita uma publicação específica como exemplo, do dia 6 de março, onde em 4 dias de carnaval 57 pessoas foram mortas, complementa: ” O destaque não tem motivação apenas política: é também um instrumento de marketing, o setor que mais se desenvolve na imprensa do Pará”.
Conclui: ” O sangue que escorre das páginas de seu jornal é um sinal evidente, para quem está em condições de ver, do que acontecerá se o senhor, por via indireta… voltar ao poder estadual. Hélder Barbalho não passará de um simulacro político do pai. Como já ensinou o velho filósofo, se a primeira versão foi um drama, a segunda será tragédia – ou comédia. Ria quem conseguir. Pobre Pará.”
Eugênio Bucci em entrevista ao Observatório da Imprensa, com relação ao lançamento de seu livro “Sobre Ética e Imprensa”, foi da seguinte forma questionado:
Há um jornalismo “entra” na redação e outro que dela “sai”. Isto é, existe um processo de manipulação técnica na seleção, organização e formatação do material que finalmente chega ao público. Onde residem os maiores desvios éticos da imprensa? Na apuração ou na edição?
E.B. Jornalismo ético é jornalismo de qualidade. Jornalismo de qualidade é jornalismo ético. Uma apuração malfeita conduz a desvios éticos, do mesmo modo que a edição malfeita. E aí nem estamos falando de más intenções, mas apenas das exigências técnicas da profissão que, é bom saber, constituem também exigências éticas. Na apuração, por exemplo, é um imperativo tanto ético quanto técnico ouvir todos os lados envolvidos e ser fiel aos diversos pontos de vista no momento de registrá-los. Na edição, é preciso dar o peso devido a cada um dos aspectos que fazem parte da história, um peso que reflita o peso que eles têm na realidade e que ajude o leitor, o telespectador, o ouvinte ou o internauta a
formar uma visão equilibrada do que se relata. Quanto à má-fé, ela pode se manifestar na apuração e na edição. Normalmente, porém, quando se fala de manipulações, estas geralmente acontecem na edição: uma manchete maldosa e distorcida, uma foto artificialmente desfavorável de um personagem e que é escolhida pelo editor com intenções de prejudicar esse personagem, a omissão de detalhes ou de fatos relevantes para obter vantagens econômicas ou políticas. A manipulação é um desvio ético flagrante e conhecido, e se materializa, sem dúvida, na edição e na chefia de reportagem. Mas não é o desvio mais importante, ao menos na minha opinião. Hoje, para mim, o mais preocupante é aquilo que passa à margem das intenções dos editores.
Bucci conclui: “De todo modo, sem uma imprensa confiável, sólida, de qualidade, não há democracia. Num país em que a imprensa não merece confiança, a democracia corre perigo.”