Lembram o “Risco Lula” em 2002, na disputa eleitoral, em que parecia que o “perigoso” Luiz Inácio poderia vencer e implantar o regime socialista que o PT pregava?
Isso provocou a subida do dólar e um forte surto inflacionário e levou os petistas a escreverem a “carta aos brasileiros” em que se comprometiam a garantir os contratos vigentes e assegurar que não havia risco de, com Lula na Presidência da República, seria implantado o socialismo. Com as difíceis condições econômicas em que se viveu, creditadas ao governo anterior, e com o seguro de que não “chutariam o pau da barraca”, o PT venceu o pleito.
Surge agora o “Risco Dilma”, que é de outra natureza: se a Dilma se reeleger o desastre político e administrativo da presidente e sua equipe vai continuar, com a agravante de que o quadro será pior do que já foi nesses 12 anos de petismo, especialmente nessa última fase.
Nesta semana tivemos a exata percepção desse risco quando observamos que com as notícias de que em pesquisa do Ibope ela teria caído fortemente – o que não se confirmou – a Bolsa de Valores havia subido. Isto é, a perspectiva de derrota da presidente animava os investidores. Significa que os agentes econômicos estão sensíveis: se ela continuar na presidência eles preveem um quadro econômico ainda mais difícil.
O fato é que Dilma perdeu as condições de governabilidade. Já não é vista mais como boa gestora, mantém em sua cabeça conceitos e preconceitos que se supunha superados, não tem conseguido concretizar, na velocidade necessária, os investimentos estatais, nem tem entusiasmado os investidores privados, a não ser alguns poucos beneficiados pela expansão do crédito e do consumo ou por financiamentos privilegiados de agencias estatais, e não tem conseguido criar uma base política que se assente em um projeto político, que vá além da distribuição de benesses, no varejo e no atacado, para partidos e parlamentares.
Além das dificuldades políticas por que passa com os aliados e com o seu próprio partido, o quadro da economia não é róseo. A inflação, mesmo com a contenção artificial de preços e tarifas, circula em torno dos 6% ao ano ( que passou a ser, de fato, o novo centro da meta ) mesmo com uma taxa de juros crescente; a situação fiscal é cada vez mais apertada ( superávit menor ); o saldo comercial cada vez menor afetando, ainda mais, a balança de pagamentos; o crescimento do PIB ameaçando não chegar, sequer, aos 2%; a taxa de investimentos baixa e estável; e a crise energética, agravada pela seca, promovendo alta de tarifas e necessidade de cobertura orçamentária às empresas do setor. Não há tranquilidade em nenhuma área.
São – ou eram – dois os pés em que se sustenta a economia brasileira e a própria presidente: um, a ampliação do mercado de consumo, cujo crescimento já chegou ao seu limite em função da inflação e da elevação das taxas de juros; o outro, a estabilidade, em níveis baixos, dos índices de desemprego, muito mais consequência da diminuição da população economicamente ativa ( PEA ) – em virtude, principalmente, das baixas taxas de natalidade das últimas décadas do que consequência do aumento de postos de trabalho restritos ao setor de serviços, de menor qualificação profissional. Esses dois pés de apoio já estão hoje bastante abalados pelo continuado baixo crescimento da produção e baixos investimentos.
Do ponto de vista político/social, a presidente se sustenta nos programas de distribuição de renda que tem sido ampliados ao extremo mas cujo limite está, justamente, na péssima performance da economia como um todo.
Dia após dia se verifica que esse quadro dramático afeta a própria capacidade da presidente de discernir e encontrar o melhor discurso. Prova disso é a sua desastrada reação à divulgação dos resultados da operação da Petrobras na compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, matéria essa que tratarei em outro post.
De qualquer forma fica clara, para setores cada vez mais amplos que estão incluídos na economia formal, sejam eles investidores ou trabalhadores, a percepção de que a continuidade do governo Dilma, seja por quatro anos, ou mesmo por apenas um ano, é um risco para o país. É o “Risco Dilma” que paira sobre as nossas cabeças. E assim as coisas só podem se agravar.
*Alberto Goldman é um dos vice-presidentes do PSDB nacional
**Artigo publicado no Blog do Goldman – 24-03-2014